Agência France-Presse
postado em 12/12/2011 19:28
LONDRES - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou nesta segunda-feira que seu veto a um novo tratado europeu foi a resposta correta à negativa de seus sócios em aceitar exigências modestas, mas insistiu que o Reino Unido continua na União Europeia."A escolha era um tratado sem as garantias adequadas ou nenhum tratado, e a resposta correta foi nenhum tratado", declarou Cameron aparentemente animado na Câmara dos Comuns, onde chamou atenção a ausência do vice-primiero-ministro, o liberal democrata Nick Clegg, que criticou publicamente a posição do chefe de governo. "Não foi uma coisa fácil de fazer, mas foi o correto", acrescentou sob a aclamação dos deputados conservadores.
[SAIBAMAIS]O premiê britânico qualificou de "modestas, razoáveis e relevantes" as garantias que pediu a seus sócios europeus para proteger os interesses britânicos e que buscavam, essencialmente, defender a cidade de Londres, o principal centro financeiro do mundo, junto a Nova York.
Acusado por outros dirigentes europeus e até pelos aliados liberais da coalizão de governo de tomar tal decisão para agradar a importante ala euro-cética de seu partido Conservador, Cameron afirmou que a recusa ao acordo não significa a saída do Reino Unido da UE.
O tratado obtido entre os outros 26 membros do bloco tem como objetivo reforçar a disciplina fiscal da zona do euro. "O Reino Unido continua sendo um membro de pleno direito da UE e os acontecimentos da semana passada não mudam nada", afirmou Cameron, insistindo que integrar a União Europeia é vital para os interesses de seu país.
A declaração de Cameron freou um pouco o entusiasmo dos falcões conservadores, que desejavam que fosse organizado um referendo sobre a saída da UE ou, pelo menos, uma renegociação das condições de adesão, o que o premiê britânico até agora descarta.
Cameron deve lidar também com uma nova ameaça a sua coalizão governamental, um dia depois de Clegg estimar que o veto imporia ao Reino Unido um risco de ficar isolado dentro da UE.
Clegg explicou posteriormente sua ausência dizendo que sua presença na Câmara dos Comuns ao lado de Cameron seria uma distração. O líder liberal-democrata reafirmou a uma entrevista à rede Sky News que, embora, discordasse claramente do primeiro-ministro nesta questão, a coalizão "está para ficar" até 2015.
Na sua incisiva intervenção diante dos deputados, o líder da oposição Trabalhista, Ed Miliband, acusou o primeior-ministro de ter exercido "o primeiro veto da história que não interrompeu nada" e de ter abandonado os britânicos em benefício de seu partido. "Tendo que escolher entre o interesse nacional e o interesse do partido, ele elegeu o interesse do partido", disse, insistindo que "se retirou quando deveria ter continuado a lutar".
Nacionalistas da Escócia também fizeram críticas e o chefe de governo, Alex Salmond, advertiu Cameron das possíveis implicações deste veto na política nacional. "Os acontecimentos da semana passada demonstram que a Escócia precisa urgentemente de voz na mesa principal quando são discutidos nossos interesses vitais, nos tornando independentes", escreveu Salmond, que prometeu um polêmico referendo sobre o tema.
Cameron conta, contudo, com o respaldo da população. Segundo uma pesquisa publicada hoje no jornal The Times, seis em cada 10 britânicos (57%) aprovam a decisão, enquanto apenas 14% que a rejeitam.