postado em 16/12/2011 08:11
O Banco Central voltou a intervir no mercado de câmbio, pondo dólares à venda com o compromisso de recomprá-los em 2012. A intenção era aumentar o volume de moeda norte-americana em circulação, derrubando seu valor, e abastecer exportadores e importadores com linhas de crédito necessárias a seus negócios. Porém, ao término dos leilões, o BC havia recusado todas as propostas de compra. Para operadores do segmento, a autoridade monetária deu, mesmo de maneira velada, um forte sinal de que os investidores não estão livres ;para operar para o lado que bem entenderem;. Além disso, deixou a impressão de que há um limite extraoficial para a cotação, entre R$ 1,70 e R$ 1,90, apesar das negativas oficiais de que a equipe econômica tenha uma banda de flutuação em mente.
Medida semelhante a essa havia sido adotada em abril de 2009, no auge da crise financeira após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. Naquele momento de extremo nervosismo em todo o mundo, as linhas de crédito externas desapareceram, afetando sobretudo as companhias que atuavam no comércio exterior. Naquela época, o BC vendeu dólares também com o compromisso de recomprá-los em 180 dias. Nos leilões de ontem, o prazo máximo foi de 60 dias. Na visão da economista Zeina Latif, os sinais de que o crédito está sumindo são claros. Para ela, com a iniciativa, o BC quis mais mostrar que não vai se omitir diante da situação do sistema do que efetivamente inundar o mercado com dólares.
;Ele avisou que, se necessário, estará lá para fazer o mercado funcionar;, avaliou Zeina. ;Mas, quando viu as propostas das instituições, achou desnecessário continuar com a aquela política.; De certa maneira, a posição dos bancos confirmou as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que não há falta de dólares no país, apesar do encarecimento das linhas de crédito internacionais. Segundo uma fonte que acompanhou a operação, o BC recusou as
propostas por considerá-las fora da realidade. A avaliação foi de que nenhuma delas oferecia um ;preço justo; e que, por isso, o mercado não necessitava realmente de mais dinheiro em circulação.
Disparidade
Para Alfredo Barbutti, economista-chefe da corretora BGC Liquidez, tal disparidade entre os desejos do BC e dos bancos levanta a dúvida se a falta de dólares no mercado é tão intensa como os operadores do segmento cambial querem fazer crer. ;O surpreendente foi que o BC não voltou a repetir o leilão para que os preços pudessem se enquadrar e, mesmo assim, o mercado funcionou normalmente, como se não houvesse escassez de dólares;, ponderou. Para Barbutti, o BC ;mostrou a espada e disse que vai cortar as asas de quem voar livre demais;.
A venda de dólares por parte do BC foi anunciada ontem por volta de 10h30. Cerca de 30 minutos depois, dois leilões tiveram início. No primeiro, o prazo de recompra era de 30 dias; no segundo, de 59. Às 11h40, a última proposta foi recebida e, alguns minutos depois, após análise da área técnica, o BC recusou todas. Enquanto os leilões estavam em andamento, o dólar entrou em queda e se desvalorizou em 1,01%. Até o fim do dia de negócios, a tendência da cotação não se reverteu e a moeda norte-americana fechou o dia com queda de 0,70%, cotada a R$ 1,860.
;Simbolicamente o movimento do BC foi importante;, avaliou Zeina. Segundo ela, o cenário hoje é diferente do encontrado em 2008 e 2009, quando a autoridade monetária se viu obrigada a intervir fortemente no mercado para suprir a falta de dólares e de linhas de crédito. Havia um outro problema: a exposição elevada de empresas brasileiras a instrumentos no mercado futuro, situação que quase levou a falência Sadia, Aracruz e outras. ;Se o BC vê um problema de liquidez, essa é a melhor ferramenta. Como esse cenário normalmente é temporário e não permanente, ele coloca a recompra para evitar desequilíbrios no sistema;, explicou.
Bovespa destoa e recua 0,56%
Após operar quase todo o dia no azul, a Bolsa de Valores de São Paulo reverteu a trajetória de ganho e fechou o dia com baixa de 0,56%, aos 56.331 pontos. Com o desempenho, a bolsa paulista foi a única entre as mais importantes do mercado a ficar no vermelho. Em Nova York, o índice Dow Jones teve alta de 0,38% e o S, de 0,32%. Os investidores norte-americanos se animaram com a divulgação de indicadores econômicos, como a diminuição dos pedidos de auxílio-desemprego ao menor nível desde maio de 2008. O bom humor reverteu a trajetória de queda, que já durava três dias. Na Europa, a atividade do setor privado na Zona do Euro avançou para o patamar mais alto em três meses. Com a notícia, os principais mercados tiveram resultados positivos: Londres (0,63%), Frankfurt (0,98%), Paris (0,76%) e Madri (0,84%).