Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 20/12/2011 08:11
Para manter o consumo aquecido e, com isso, evitar um Produto Interno Bruto (PIB) negativo já no primeiro trimestre de 2012, o governo está contando com a ajuda providencial do novo salário mínimo, de R$ 625, que entrará em vigor a partir de 1; de janeiro. Pelas contas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a remuneração reajustada injetará R$ 94 bilhões na economia. O dinheiro extra no bolso dos trabalhadores, no entanto, pode trazer efeitos colaterais indesejados, alertam os economistas. O mínimo maior poderá pressionar a inflação que, ainda neste ano, deve extrapolar o teto da meta de 6,5%.E não é só. O aumento do mínimo pressiona as contas públicas. O ano nem acabou e o mercado já teme que o governo seja levado a fazer alguma mágica para conseguir fazer uma economia para pagar os juros da dívida pública (superavit) da ordem de 3% do PIB. ;O novo salário já estava contemplado no orçamento. O problema é saber se o governo vai ter fôlego para economizar o suficiente a fim de cumprir a meta fiscal cheia;, observou Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank. A seu ver, o espaço para o governo manobrar em 2012 é curto.
;É um ano eleitoral. Cortar investimento é complicado, tendo em vista a pressão para acelerar as obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas;, avaliou Newton Rosa, do Sul América Investimento. Por isso, emenda Santos, o que se espera é que o governo resista às inúmeras reivindicações por aumento de salários, como a dos servidores públicos e dos aposentados que ganham acima do mínimo. ;(O governo) vai ter que controlar os custos;, advertiu.
Previdência
Em 2012, o Executivo federal também não poderá contar com recordes sucessivos de arrecadação. ;A receita vai crescer menos;, previu o economista Eduardo Velho, da Prosper Corretora. Neste ano, devido ao bom desempenho do mercado em 2010, o governo arrecadou quase R$ 20 bilhões a mais que em 2010. Mas, como todas as previsões indicam dificuldades crescentes para 2012, o desempenho excepcional não deverá se repetir a curto prazo.
O impacto negativo do aumento do salário mínimo bate primeiro na Previdência Social. Para cada real de aumento no mínimo, a despesa líquida do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) cresce R$ 183,8 milhões ao ano. Como a diferença do salário atual, de R$ 545, para o novo é de R$ 80, o impacto será de R$ 14,7 bilhões. Caso o governo ceda à pressão dos aposentados que ganham acima do piso e dê a eles também um aumento real, a despesa crescerá ainda mais. Cada 1% de reajuste nesses benefícios, calcula o INSS, implica R$ 1,3 bilhão em despesas adicionais por ano.
O aumento também leva a reajustes automáticos no seguro-desemprego e no abono salarial do PIS/Pasep. O benefício é pago entre três e cinco parcelas ao trabalhador demitido sem justa causa. Têm direito ao abono os trabalhadores de baixa renda que comprovarem o período exigido de carteira assinada no exercício anterior. Eles recebem um salário mínimo de abono no ano seguinte.
Com tamanha elevação da renda, não é de se estranhar que a inflação siga sob pressão. Para o fim deste ano, os analistas voltaram a elevar as previsões, com a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subindo de 6,5% para 6,52%. Mas a trajetória se inverteu para 2012. Na visão dos analistas, o ano que vem fechará com uma inflação de 5,39%. Há quatro semanas, as previsões apontavam 5,55%.
Sinais contrários
Os consumidores não devem se espantar com os sinais contrários dos índices de preços, que possuem composição diversa e metodologia de cálculo diferentes. Os IGPs, por exemplo, que têm grande peso de preços no atacado e das commodities, sentem mais rapidamente os efeitos da crise financeira internacional. Já os índices de preços ligados ao consumo das famílias exibem alta. Eles captam os preços dos alimentos no mercado interno e a inflação dos serviços, que não sinaliza recuo.
Europa faz Bovespa cair 1,42%
As declarações do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, de que apenas a austeridade fiscal não será suficiente para resolver os problemas da Zona do Euro foram suficientes para abalar os mercados ontem, sobretudo na Europa. Com exceção das bolsas de Paris e Lisboa, que tiveram ligeiras altas, de 0,06% e 0,19%, respectivamente, os principais centros financeiros mundiais fecharam o dia no vermelho. Em Frankfurt (foto), os investidores reagiram mal às análises de Draghi e fizeram o pregão recuar 0,54%. Contudo, os efeitos negativos se fizeram sentir mais fortemente no outro lado do Atlântico. A Bolsa de Nova York caiu 0,84%. A de São Paulo caiu mais: -1,42%, fechando o dia aos 55.298 pontos.