O governo aposta no racha entre os sindicatos dos trabalhadores do setor aéreo para esvaziar a greve da categoria, prevista para começar às 23h de amanhã. Duas agremiações ligadas à Força Sindical no Rio de Janeiro e no Amazonas aceitaram a proposta do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), de reajuste de 6,17%, e suspenderam a greve. No entanto, as entidades filiadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT) decidiram manter a paralisação.
A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, garantiu que ;não haverá apagão aéreo; por causa da greve dos funcionários do setor de aviação. Ao visitar ontem o senador José Sarney (PMDB-AP), no Congresso Nacional, ela disse que confia nas previsões do Secretário de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, sobre o empenho das companhias em impedir a paralisação, pois não há por que os passageiros serem submetidos ao caos às vésperas do Natal. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a SAC divulgaram nota informando que acompanham as negociações e acreditam no bom senso de trabalhadores e empresas para que a população não seja prejudicada.
Se a adesão à greve for expressiva, o sindicato patronal informou que as companhias aéreas colocarão em prática o plano de contingência acordado com as autoridades, para diminuir os transtornos nos aeroportos. Procurada, a Infraero não se pronunciou. Na segunda-feira, os aeronautas (profissionais de bordo) e aeroviários (trabalhadores de terra) rejeitaram, em audiência no Tribunal Superior do Trabalho (TST), a proposta de aumento de 6,17% feita pelos empregadores e insistiram na correção de pelo menos 7%, abrindo mão dos 10% iniciais. Eles prometem manter somente 20% do efetivo trabalhando.
;Diante da proposta dos patrões, decidimos pela greve por tempo indeterminado. Com isso, os passageiros serão muito prejudicados, principalmente aqueles que utilizarem grandes aeroportos, como os de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro;, disse o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Gelson Fochesato. Ele alertou para o efeito dominó que os problemas nesses terminais podem gerar. ;Por isso, todos podem ser prejudicados.;
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, reforçou que o objetivo da categoria é conseguir o reajuste em tempo hábil para que o passageiro sofra menos transtornos. ;Em princípio, esperamos que a greve dure apenas 24h e que consigamos negociar. Seria o ideal;, destacou.
A Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac/CUT) divulgou nota na noite de ontem confirmando a greve de amanhã. ;Lamentamos o fato de dois sindicatos ligados à Força Sindical terem aceitado a proposta do Snea, com índice de reajuste igual à inflação, sem aumento real para os trabalhadores dessas bases. Consideramos a decisão um equívoco;, assinalou. Segundo a Fentac, os sindicatos cutistas do setor aéreo representam 100% dos aeronautas e cerca de 80% dos aeroviários.
Preocupação
Com o fim de ano é o período de maior fluxo de pessoas nos aeroportos, muitos temem a repetição do caos de 2006, 2007 e do ano passado. A servidora pública Ilza Ávila Ribeiro, 61 anos, espera pelo pior. ;Viajei em dezembro do ano passado e passei maus bocados. Tive de esperar mais de 11 horas no terminal, sentada no chão, sem banho e comida;, contou. Ilza foi para o Rio de Janeiro ontem e retorna a Brasília na próxima semana. ;Estou com medo de, na volta, passar por todos os problemas de novo;, comentou.
Cláudia Netto e a filha Eduarda embarcaram ontem para Campinas (SP), onde passarão o Natal, e voltarão no próximo dia 28. ;No ano passado, fiquei cerca de cinco horas em Viracopos. Tomara que a situação não se repita. Tive sorte de marcar a passagem para hoje (ontem), porque depois será complicado viajar;, afirmou Cláudia, bastante apreensiva. O estudante Guilherme Pinheiro, 20 anos, não está satisfeito com a ameaça de greve. Ele embarcou ontem para Seatle, nos Estados Unidos. ;Greve nesta época do ano é muito problemático;, criticou. ;Se essa greve acontecer, mais uma vez, o maior prejudicado será o cidadão brasileiro;, emendou o advogado e professor de direito da Universidade Mackenzie Renato Poltronieri.