Se confirmadas as projeções, o país fechará 2012 com um saldo em vendas externas de US$ 236,58 bilhões, bem abaixo dos US$ 254,97 bilhões esperados para 2011. Na mão inversa, as importações continuarão em alta, atingindo US$ 233,54 bilhões, ou 2,4% a mais que os US$ 228,15 bilhões previstos para este ano. Com esses números, o superavit do ano que vem, segundo a AEB, será de apenas US$ 3,04 bilhões ; um tombo de 88,7% em relação ao de 2011.
;Começaremos o ano sob o efeito de uma maior exposição às vendas para a China, da variação dos preços de produtos básicos, como soja e minério de ferro, e da perspectiva de menos exportações para a Europa em crise;, disse o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro. A seu ver, a economia chinesa é a grande incógnita de 2012 para o comércio exterior brasileiro, sobretudo em razão de seu peso sobre as cotações dos principais produtos exportados pelo país. ;Perdemos a oportunidade de evitar a perigosa dependência das trocas com nosso principal parceiro comercial, virando o jogo a nosso favor. A bola está hoje com os chineses, que não aceitam negociar compensações;, avaliou.
Vinculação
As commodities, produtos básicos cotados no exterior, representam 70% das exportações brasileiras. Sobre essa parcela da pauta, o governo não tem influência nos volumes nem nos preços. Na avaliação da AEB, as importações, constituídas em mais de 80% por manufaturados, poderão ser impactadas pela crise externa, mas apenas superficialmente, considerando que a equipe econômica está adotando medidas fiscais e monetárias para manter a economia aquecida.
Dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) revelam que, no acumulado do ano, a balança comercial atingiu saldo de US$ 26,84 bilhões, 43,1% a mais que o apurado no mesmo período de 2010. As exportações alcançaram US$ 250,33 bilhões, alta de 26,4%, e as importações subiram 24,7%, para US$ 223,48 bilhões.
Para Welber Barral, consultor e ex-secretário de Comércio Exterior, o cenário é preocupante, mas menos trágico que o desenhado pela AEB. Ele reconhece os riscos da maior vinculação das exportações ao apetite chinês e da evolução das importações, mas espera que o resultado da balança deste ano se repita em 2012. ;O valor das commodities tende a cair, mas não muito, porque serão sustentadas mais pelo consumo crescente de países emergentes do que por especuladores;, avaliou. Mas admitiu que, diante do aprofundamento da crise europeia, depender só de um país (no caso, a China) deixou o quadro mais arriscado para o Brasil.
Têxteis
Castro acredita que o atual patamar de câmbio garante alta nas importações de manufaturados e cobrou mais ações de defesa comercial do governo. Não por acaso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que o governo vai mudar o regime tributário das importações de têxteis. A alíquota dará lugar a um valor fixo em reais. ;Tem terno que chega por US$ 1,50. Isso não paga nem o botão;, disse Mantega, em São Paulo, onde recebeu uma medalha de honra ao mérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). O governo pedirá à Organização Mundial do Comércio (OMC) que a medida se torne uma salvaguarda por 10 anos.
Peso das commodities
Estimativas reforçam dependência de itens primários no comércio internacional
Exportações
(em US$ bilhões)
Produtos 2012 2011 Variação (em %)
Básicos 107,5 121,1 - 11,2
Manufaturas 123,7 128,5 - 3,7
Outros 5,3 5,4 - 3,3
Total 236,6 255,0 - 7,2
Importações
(em US$ bilhões)
Produtos 2012 2011 Variação (em %)
Bens de capital 49,9 48,2 3,6
Matérias-primas 104,3 102,6 1,7
Bens de consumo 44,4 40,4 9,9
Combustíveis 34,9 36,9 -5,6
Total 233,5 228,1 2,4
Superavit
(em US$ bilhões)
2012 2011 Variação (em %)
3,0 26,8 - 88,7