Economia

Contração no preço dos produtos básicos causa prejuízo para empresas

O setor mais afetado foi o de petróleo e gás, com diminuição de R$ 96,8 bilhões. Petrobras teve a maior retração no ano, encolhendo R$ 78,9 bilhões

postado em 29/12/2011 09:08

O ano não foi bom para a maior parte das empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Além de uma queda acentuada no principal indicador, o Ibovespa (18,26% negativos até ontem), o valor de mercado dessas companhias despencou R$ 213,5 bilhões. Em dezembro de 2010, as 323 empresas analisadas pela consultoria Economatica valiam R$ 2,42 trilhões, montante que caiu para R$ 2,21 trilhões agora. A crise da dívida europeia e suas repercussões sobre o mercado financeiro, somadas ao recuo no preço das commodities (produtos básicos com cotação internacional), afetaram intensamente as ações e levaram ao desempenho ruim.

O setor de petróleo e gás foi o mais atingido, com queda de R$ 96,8 bilhões. O resultado foi fortemente influenciado pelo desempenho da Petrobras, cujo valor de mercado encolheu R$ 78,9 bilhões. Nas contas da Economatica, o segmento era avaliado em R$ 457,3 bilhões, passando para R$ 360,5 bilhões 12 meses depois ; a retração chegou a 21,16%. Situação semelhante ocorreu com a mineração, que desvalorizou R$ 71,1 bilhões influenciada pela Vale. As ações da companhia tiveram o valor diminuído em R$ 68,8 bilhões. Os bancos não escaparam, registrando um tombo de R$ 70,8 bilhões ; só o Santander recuou R$ 26,4 bilhões e o Banco do Brasil, R$ 21 bilhões.

China

Na avaliação de Osvaldo do Nascimento, responsável pelas operações de investimento e previdência do Itaú Unibanco, essa desvalorização ocorreu em companhias do mundo inteiro. ;Com a crise na Europa, o valor das empresas, que é quanto se paga por elas nas bolsas de valores, caiu;, disse. No caso da Bovespa, as principais influências vêm de empresas ligadas às commodities. Segundo o economista, grandes consumidores, como a China, diminuíram as compras dos produtos básicos, o que derrubou as ações dessas companhias. O prejuízo à bolsa paulista foi grande porque ela é bastante influenciada por empresas que atuam no ramo de petróleo e mineração.

Em contrapartida, o setor de alimentação e bebidas obteve o maior ganho no valor das empresas, de R$ 48,9 bilhões. O de energia figurou em segundo, com R$ 27,9 bilhões, seguido por telecomunicações (R$ 23,7 bilhões). O melhor desempenho entre as companhias foi da Ambev, que avançou 28,7%, quando o valor da companhia passou de R$ 144,3 bilhões para R$ 185,8 bilhões.

Terreno negativo
Com poucos indicadores na agenda, as bolsas do Brasil e do restante do mundo operaram, ontem, de olho na Europa e no leilão de títulos da Itália. Mesmo com o sucesso da operação italiana, os principais mercados do globo ficaram no terreno negativo, ainda temendo os desdobramentos da crise da dívida na Europa. A Bolsa de Valores de São Paulo sofreu a maior perda, com um recuo de 2,54%. O Ibovespa fechou o dia aos 56.533 pontos. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, seguiu a mesma trajetória e amargou queda de 1,14%. Na Europa, as principais praças também andaram para trás: Londres (-0,1%), Paris (-1,03%), Frankfurt (-2,01%) e Madri (-2,01%).

Setores que mais perderam valor de mercado no ano


(Em R$ bilhões)

Petróleo e gás 96,8
Mineração 71,1
Bancos 70,8
Siderurgia e metalurgia 33,6
Construção 17,4
Transporte e serviços 8,7
Papel e celulose 7,4
Bolsa de Valores e commodities 6,4
Comércio 5,3
Seguradora 3,8

Fonte: Economatica

Dólar tem alta de 0,73%
Dezembro deve terminar com mais saídas de dólares do que ingressos no país. Até o dia 23, a diferença entre todo o capital externo que chegou ao Brasil e o que foi remetido para fora deixou um saldo negativo de US$ 2,1 bilhões. O mercado financeiro tem sido a principal porta de fuga: US$ 32,3 bilhões entraram por ela e US$ 34,8 bilhões saíram. Os exportadores, que, até o mês passado, contribuíam para amenizar o deficit, diminuíram o ritmo de repatriação de dólares.
A diferença entre exportações e importações, em dezembro, deixou um saldo positivo de apenas US$ 299 milhões. Ontem, após a divulgação desses números, a cotação do dólar assumiu trajetória de alta e encerrou a R$ 1,873, com elevação de 0,73%.

Japão sofre com indicadores ruins

Tóquio ; Uma série de estatísticas anunciadas ontem pelo governo japonês demonstrou que a terceira economia mundial atravessa uma fase muito ruim, influenciada pela conjuntura adversa em todo o mundo. O consumo retrocedeu 3,2% em novembro em relação ao mesmo período do ano anterior, mais do que o previsto pelos especialistas, e as vendas ao varejo recuaram 2,3%. A produção industrial retrocedeu 2,6%.


O consumo no Japão ainda não se recuperou totalmente do tombo após o terremoto e posterior tsunami que devastou o nordeste do país em março. Sua reativação é uma condição importante para a retomada da economia japonesa, afetada pela desaceleração do crescimento mundial e pela apreciação do iene, que prejudica as exportações.


As fábricas do Japão reduziram o ritmo em novembro por causa de interrupções de fornecimento causadas pelas enchentes na Tailândia. A produção industrial caiu 2,6%, num declínio bem maior do que o 0,8% previsto pela média dos analistas de mercado. Isso anulou o crescimento de 2,2% registrado em outubro.


Muitas fabricantes de eletrônicos e montadoras de veículos têm fábricas na Tailândia ou dependem de peças feitas no país. A fabricação de equipamentos de comunicação desabou quase 25%, enquanto a de automóveis e equipamentos de transporte caiu 9,5%. O Ministério da Economia espera que a produção suba 4,8% em dezembro, o que deixaria o resultado do trimestre praticamente estável.

Curto prazo
;É provável que a demanda externa continue a encolher no primeiro trimestre de 2012, levando em conta nosso cenário econômico global;, disse Takuji Okubo, economista-chefe do Société Générale em Tóquio. ;A produção industrial japonesa parece pronta para expandir nos próximos dois meses, mas é incerto se ela pode continuar a crescer além do curto prazo.;


Entre julho e setembro, a economia japonesa registrou seu primeiro trimestre de crescimento no ano, apesar de ainda ser possível um novo recuo nos próximos resultados, especialmente se a União Europeia e os Estados Unidos, dois importantes parceiros comerciais e financeiros, entrarem em recessão. O índice de preços ao consumo recuou 0,2% em novembro, mostrando que o Japão continua em deflação, um péssimo sinal de fraqueza.


A queda dos preços há dois anos e meio freia os investimentos das empresas, que não podem manter suas margens de lucro, e desestimula o consumo ; os trabalhadores adiam as compras esperando os preços caírem ainda mais. Para amenizar a situação, o Banco Central do Japão mantém sua taxa básica de juros entre zero e 0,1% para facilitar a circulação de dinheiro.

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