Rosana Hessel
postado em 08/01/2012 08:02
Taipei e Hsinchu ; Depois do reconhecido sucesso da Coreia do Sul, que virou o rumo de sua história ao investir pesado em educação nos anos 1960, outros países asiáticos decidiram adotar a mesma receita. Taiwan, a pequena ilha ao sul da China, talvez seja um dos melhores exemplos desse movimento. Hoje, o lugar é um dos centros tecnológicos do planeta que mais crescem graças à decisão, tomada há 20 anos, de abandonar o posto de paraíso das falsificações e apostar tudo no desenvolvimento científico. Agora, enquanto o Brasil ainda espera para definir um plano efetivo para sua política industrial de longo prazo, a estratégia dos taiwaneses rende frutos. A ilha se transformou numa das maiores fornecedoras de tecnologia no mundo e já nem se lembra como era nos anos 1980.Os sinais do crescimento aparecem por toda parte, mas, sobretudo, nos parques científicos, que recebem de serviços básicos, como água, gás encanado, eletricidade e comunicação, até sofisticados sistemas de tratamento da águas residuais, alfândega 24 horas, bancos, clínicas, dentistas, instalações recreativas e escola bilíngue para trabalhadores e familiares. Na lista, constam ainda incentivos a empresas que apostam em tecnologia, como imposto único de 17%, dedução de 15% a 30% sobre os gastos em pesquisa e desenvolvimento, isenção de Imposto de Importação de equipamentos e de bens de capital, além de subsídios para a formação de funcionários.
Ao todo, são 717 companhias estabelecidas em 13 polos científicos. A cadeia de maior expressão é a de semicondutores, com 192 empresas em todos os parques, mas as indústrias de LCD, LED, energia solar e biotecnologia também se destacam. Juntas, elas empregam quase 220 mil pessoas e faturaram US$ 74,9 bilhões em 2010, o equivalente a 8,2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país). ;Taiwan é o quarto país do mundo em número de patentes registradas e hoje, praticamente metade de seu PIB vem da indústria de eletrônicos;, comenta o representante do Conselho de Desenvolvimento do Comércio Exterior de Taiwan, Richard Tsai. Em 2009, somente nos Estados Unidos, a pequena ilha fez mais de 18 mil registros e, na China, outros 21,1 mil.
Papel falante
No Parque Científico da cidade de Hsinchu, a receita gerada pelas 449 empresas somou US$ 40,9 bilhões em 2010 ; um crescimento de 48% sobre 2009. O maior volume, US$ 27,6 bilhões, partiu do setor de semicondutores. Para 2011, a expectativa de crescimento é menor, de 10% a 15% ; os dados ainda não foram fechados ;, em razão da crise nos principais mercados importadores, como a Europa.
Dentro do parque, a uma hora e meia de carro da capital Taipei, o Instituto de Pesquisa Tecnológica Industrial (ITRI, na sigla em inglês) é um caso à parte. Mantido pelo governo taiwanês e pela iniciativa privada, registrou mais de duas mil patentes desde que foi criado, há duas décadas, e tem recebido vários prêmios de inovação. Um dos mais recentes, laureado por instituições norte-americanas, foi o desenvolvimento de uma fibra de papel que funciona como alto-falante. Conectado a um iPod, produz som perfeito, sem ruídos. O instituto desenvolveu ainda a patente de um televisor 3D que pode ser assistido sem o uso de óculos. A Foxconn comprou a ideia e lançou o produto em 2010.
A empresa, uma das maiores fabricantes de produtos das grandes marcas globais, como a Apple, anunciou, em abril de 2011, investimentos de US$ 12 bilhões para a construção de uma fábrica de
iPads no Brasil. A Foxconn ainda negocia um local e benefícios para o projeto. Mas, a fim de estruturar sua nova unidade, definiu que pretende transferir para Taiwan, em 2012, cerca de dois mil funcionários da nova unidade brasileira, para treinamento, revela o diretor do escritório comercial do Brasil em Taiwan, Sérgio Taam. ;Haverá um intercâmbio maior entre os dois países, não apenas comercial, nos próximos anos;, prevê.
Balança
Taiwan é o 13; maior exportador para o Brasil, enquanto o país ainda manda muito pouco de seus produtos para lá
(Em US$ bilhões)
Exportação
2001 - 0,312
2002 - 0,430
2003 - 0,689
2004 - 0,832
2005 - 0,826
2006 - 0,759
2007 - 0,815
2008 - 1,414
2009 - 0,961
2010 - 1,737
2011* - 2,123
Importação
2001 - 0,735
2002 - 0,686
2003 - 0,646
2004 - 0,981
2005 - 1,323
2006 - 1,748
2007 - 2,285
2008 - 3,537
2009 - 2,412
2010 - 3,104
2011* - 3,310
*até novembro
Principais produtos
O Brasil importa de Taiwan óleo diesel, circuitos integrados, tela para microcomputadores portáteis e placas-mãe. Na exportação, destacam-se soja em grãos, minério de ferro, algodão e ferro fundido.
Fonte: Mdic