postado em 18/01/2012 07:40
Os consumidores brasileiros são os mais otimistas entre os de oito economias emergentes. A conclusão é de uma pesquisa do Banco Credit Suisse, que ouviu 4 mil pessoas no Brasil, Rússia, Índia, China, Turquia, Arábia Saudita, Egito e Indonésia. Aqui, quase 60% dos entrevistados acreditam que as finanças melhorarão nos próximos seis meses. Na Turquia, última colocada, esse indicador é de apenas 16%. O segundo lugar é da Índia, onde 43% dos consumidores estão otimistas, seguida pela China, com 40%.
O bom momento, captado pelo Banco Central, é reflexo de um ganho real (acima da inflação) de 5% na renda dos trabalhadores ao longo do último ano. Com mais dinheiro no bolso e os incentivos dados pelo governo, veio a disposição para ir às compras. Divulgado ontem pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), o índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) abriu 2012 com alta de1,8% na comparação com dezembro e de 0,3% em 12 meses, após três quedas seguidas.
No segmento de bens duráveis, a disposição para o consumo cresceu acima da média para o mês (4,6%), puxada pela redução, no fim do ano passado, do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de fogões, máquinas de lavar e geladeiras. ;Esses resultados indicam que o esfriamento do mercado de trabalho ainda não comprometeu a confiança das famílias;, disse Bruno Fernandes, economista da CNC. Prova disso é que o indicador de perspectiva profissional cresceu 3,5% na comparação com igual período do ano passado, com destaque para o Sudeste, onde a variação foi de 8,1%. Na comparação mensal, 52,8% dos entrevistados consideram o emprego mais seguro do que em dezembro.
Mas não são apenas itens para a casa que os brasileiros querem comprar. O levantamento do Credit Suisse mostra que, no topo da lista de produtos e serviços mais procurados, estão computadores, smartphones e acesso à internet. ;Os consumidores passaram a direcionar os gastos para itens que não são de primeira necessidade, como os de tecnologia;, ponderou Andrew Campbell, analista de ações do Credit Suisse.
Nem mesmo o aumento das despesas típicas do início de ano, como material escolar, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e Imposto Predial e Territorial Urbano
(IPTU), impediu o indicador de consumo atual de crescer acima da média no período: 4,1%. De olho no potencial de consumo do Brasil, a Sony, por exemplo, reduziu ontem os preços de um grupo de produtos em até 25%.
Equipamentos
A expectativa de consumo maior é reforçada pela ascensão das classes C e D. Sozinho, o reajuste do salário mínimo para R$ 622 a partir deste mês injetará R$ 47 bilhões na economia. Além disso, o indicador de acesso ao crédito subiu 1,3% em janeiro. ;O incremento de renda para os trabalhadores servirá para que a economia ganhe um impulso no começo de ano. A maior parte desse dinheiro será destinado às compras, sejam elas de equipamentos eletrônicos ou de eletrodomésticos. Boa parte também será usada em reparos de itens pessoais, smartphones, tênis e roupas;, afirmou Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular.
Na avaliação da economista Zeina Latif, contudo, a tendência para os próximos meses é de crescimento mais suave e gradual do consumo do que o observado em janeiro, sobretudo devido aos efeitos da estagnação econômica na Europa. ;O cenário exterior ainda afeta a confiança dos empresários, os investimentos, a contratação de mão de obra e a renda dos trabalhadores. É um efeito dominó;, alertou. Bruno Fernandes, da CNC, complementou que o ciclo de redução nos juros iniciado em agosto ; que pode continuar hoje com o anúncio de mais uma queda de 0,5 ponto percentual na taxa básica (Selic) ; só será percebido pelos consumidores a partir do segundo semestre. ;No curto prazo, a demanda doméstica deve seguir em ritmo lento.;
Impacto
O reajuste de R$ 77 no salário mínimo representa um aumento de 14,1% na renda de 48 milhões de trabalhadores, o maior desde 2006. Cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que o governo arrecadará R$ 22,9 bilhões a mais em impostos sobre produtos e serviços consumidos por esses trabalhadores. O impacto do novo mínimo será sentido especialmente nas administrações municipais da Região Nordeste, onde 22% dos trabalhadores ganham o piso. Em segundo lugar vêm as prefeituras do Norte, onde 17,9% dos funcionários ganhavam, até o mês passado, menos de R$ 622.