Economia

Banco Central reduz a taxa básica de juros a 10,5% ao ano

postado em 19/01/2012 07:44
Diante do cenário internacional incerto e de uma inflação menos corrosiva comparada à de 2011, o Banco Central seguiu à risca o esperado pelo governo e pelo mercado e cortou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, a quarta vez na gestão de Alexandre Tombini. Com o movimento, o indicador passou de 11% para 10,50% ao ano. No comunicado em que justificou a redução, o BC reforçou seu conservadorismo ao não se comprometer com indicações sobre o futuro da Selic. Tanto que repetiu exatamente as palavras do texto pós-reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de novembro do ano passado.

No entender dos especialistas, o recado foi claro: há espaço para a continuidade do alívio monetário, com pelo menos mais duas baixas de 0,25 ponto, com a Selic cravando 10%. Mas para se chegar perto dos 9% desejados pela presidente Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto terá de fazer a sua parte e promover um amplo e efetivo arrocho fiscal.

A promessa de um aperto nos gastos vem sendo ratificada diariamente pelo governo. Os sinais são de que a tesoura atingirá uma quantia entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões. A expectativa é de que ajuste no Orçamento seja apresentado até o início do próximo mês. O que incomoda o BC, porém, é a existência de uma ala governista, da qual faz parte o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que pede cortes menos expressivos e o não cumprimento da meta cheia da economia para o pagamento de juros da dívida (superavit primário), de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Assim, o governo conseguiria retomar os investimentos públicos, contidos em 2011, para garantir crescimento econômico de pelo menos 4% neste ano.

Para a diretoria do BC, o superavit primário de 3,1% do PIB, realizado com base em uma efetiva redução das despesas e não por meio do aumento das receitas, ajudará a levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, ao longo dos próximos meses. Sem esse esforço governamental, dificilmente o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) conseguirá fechar 2012 abaixo de 5%, mesmo com o agravamento da crise na Europa, que já está no quadro traçado pelo BC para vir derrubando os juros desde agosto do ano passado. ;Por enquanto, a presidente Dilma está tendendo mais para o lado do BC, que tem todo o respaldo do ministro da Fazenda, Guido Mantega;, disse um assessor do Planalto.

Na avaliação de Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, o comunicado divulgado pelo BC não trouxe indicativos de que o ciclo de afrouxamento monetário será encerrado em março, como cogita parte do mercado financeiro. ;O BC manteve seu grau de liberdade para seguir o comportamento da atividade e, assim, tomar as próximas decisões;, afirmou. ;Não houve nenhuma mudança significativa que gerasse uma sinalização mais contundente;, argumentou.

Atividade

Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB, o cenário internacional incerto e a perspectiva de baixo crescimento global, somados a uma inflação doméstica cadente, deixaram o BC confortável para promover pelo menos mais um corte na taxa básica. Ele ressaltou ainda que não vê perigos para o Copom ao longo deste primeiro semestre. ;O teste importante no front inflacionário ocorrerá na segunda metade do ano e dependerá da retomada do nível da atividade;, disse. Salomão Quadros, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), endossou esse discurso. ;Internamente, os preços podem subir um pouco agora, mas depois vão se acomodar. E, mesmo que subam, não há risco de disseminação de altas;, avaliou.

Porém, mesmo com o novo corte na Selic, o Brasil continua a amargar a liderança no ranking das maiores taxas reais (descontada a inflação) de juros do mundo: 4,9% ao ano, segundo cálculos da Cruzeiro do Sul Corretora. Para superar a segunda nação da lista, a Hungria, os brasileiros têm de derrubar a Selic ao mesmo para a metade ; os húngaros ostentam juro real de 2,8% ao ano. Para o consumidor ávido por crédito, na prática, a diferença será pequena. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), com a queda de 0,5 ponto definida pelo BC, a taxa média das operações de empréstimos e financiamentos ficou mísero 0,04 ponto percentual menor ao mês. Na compra de uma geladeira de R$ 1,5 mil financiada em 12 vezes, a parcela ficará somente R$ 0,39 mais barata.

Caixa e BB aliviam clientes

Tão longo o Banco Central anunciou a decisão de reduzir a taxa básica de juros (Selic) de 11% para 10,50% ao ano, os bancos públicos trataram de anunciar corte nos encargos cobrados dos clientes. Segundo a Caixa Econômica Federal, as taxas das linhas de crédito ficarão até 28,3 pontos percentuais ao ano menores para os consumidores e até um ponto ao ano para empresas. No Banco do Brasil, os juros cobrados nos financiamentos de veículos baixaram de 1,36% para 1,32% ao mês. No cheque especial, a taxa recuou de 8,41% para 8,37% mensais.

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