Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 22/01/2012 08:00
Seu filho passou no vestibular ou acabou de se formar e toda a família está feliz. Chegou a hora, então, de cumprir a promessa e presenteá-lo com um carro. Antes de tomar a decisão, porém, é bom fazer as contas e ver se o custo de manutenção de mais um veículo cabe no seu bolso, recomendam os consultores. ;O risco de descontrole é grande se a família não tem uma folga ou não se preparou para arcar com mais essa despesa;, diz o especialista em educação financeira Reinaldo Domingos. Segundo ele, com crédito abundante e parcelamento a perder de vista, a prestação do veículo é o que menos pesa no bolso. ;O custo de manutenção mensal é, muitas vezes, maior do que a parcela;, assegura.Segundo Domingos, para provar, é só começar a fazer as contas. Além do custo do financiamento, liste todas as despesas fixas e variáveis. Como fixas, ensina Domingos, devem ser considerados os gastos com seguro, IPVA e licenciamento, além do seguro obrigatório. Não se esqueça de acrescentar a depreciação do valor do veículo, em média de 10% por ano. ;Veículo não é um investimento, mas um bem de consumo que se deteriora com o tempo;, lembra.
Na mesma planilha, anote as despesas variáveis, como combustível, manutenção, multas, estacionamento e lavagem do carro. Fora o financiamento, a despesa média mensal de manutenção de um carro popular, na faixa de R$ 25 mil, é de R$ 875. No caso de automóveis mais caros, que implicam custos maiores, pode ultrapassar R$ 1 mil por mês. Não é pouca coisa.
Um carro mais simples, que custa R$ 30 mil no mercado, vai comprometer o seu orçamento em pelo menos R$ 685 se a sua opção for por fazer um financiamento em cinco anos (60 meses), dando de entrada apenas 10% do valor (R$ 3 mil). As despesas fixas chegam a R$ 500 por mês, com as variáveis alcançando outro tanto. No mínimo, então, o consumidor estará assumindo um compromisso de R$ 1.685 todo mês.
Caso a compra seja absolutamente necessária, Domingos dá algumas dicas de como economizar. Se o consumidor mora numa cidade grande, uma boa opção é o revezamento de caronas. Cada dia, um vizinho ou um amigo pode assumir o transporte do colega para o trabalho ou faculdade. O uso do transporte público como alternativa, principalmente se há metrô perto de casa, não deve ser descartado.
Todos os dias, o brasiliense Tales Gontijo, 22 anos, sai de casa no Setor de Mansões Park Way, próximo a Águas Claras, e vai, de carro, até o metrô. No trem, segue até a Rodoviária, onde pega um ônibus em direção à Universidade de Brasília. O passe livre estudantil permite que ele viaje de graça até a universidade e poupe R$ 15 diários em combustível. A saga rende uma economia de R$ 300 mensais.
Transporte público
O estudante tem os gastos com o carro controlados. Por mês, são cerca de R$ 150. Aos 19 anos, Gontijo comprou o veículo próprio, modelo 1992, com o dinheiro de uma poupança feita pelo pai. Comedido, usou apenas metade do dinheiro do fundo. O resto, poupou para momentos de necessidade. O veículo, no entanto, passa muito tempo estacionado. ;Acho um gasto desnecessário. Não me importo de usar o transporte público. Só uso o automóvel no fim de semana ou quando tenho prova e não posso correr o risco de chegar atrasado;, conta.
O carro de Gontijo é isento de IPVA. O estudante também poupa nas lavagens. ;Não preciso pagar R$ 30 para lavar o carro. Eu mesmo posso fazer isso;, afirma. Agora, nas férias, ele se dedica a um cursinho preparatório para concurso público. Para economizar nos gastos com combustível, o estudante se mudou para a casa de um amigo na Asa Norte. Ele garante que economiza cerca de R$ 150. ;Dividir as despesas da república ainda sai mais barato do que vir para o Plano Piloto todos os dias;, explica.
Na contramão, Gustavo Dias, 23 anos, já passou por apertos por não economizar com o terceiro carro. O estudante de administração garante gastar, por mês, ao menos R$ 500 com o veículo, entre as lavagens quinzenais, o combustível para ir de Planaltina (GO) à UnB diariamente e as caronas dadas aos colegas não motorizados. ;Não custa nada desviar um pouco da rota para buscar um amigo em casa. Se a pessoa está precisando, eu levo. Acho que fariam a mesma coisa por mim;, diz. Ele afirma que também não pede aos amigos que ajudem na gasolina.
O estudante afirma que o carro abocanha boa parte do salário de estagiário. Para dar conta dos gastos, ele vende parte do vale-alimentação. Além da gasolina e das lavagens, o estudante reclama do preço dos estacionamentos. ;Como só tenho uma hora de almoço, geralmente vou a algum shopping. Nem sempre acho vaga em estacionamentos gratuitos e tenho que pagar para deixar o carro;, diz. ;Bati o carro e tive que pegar dinheiro emprestado para pagar o conserto. Imprevistos, como um pneu furado, também pesam.;
Ponderação
Por tudo isso, a decisão de adquirir o primeiro carro ou um veículo adicional para a família deve ser muito bem ponderada, aconselha o educador financeiro Reinaldo Domingos. Segundo ele, na maioria das vezes o consumidor pode esperar um pouco mais, enquanto constitui uma boa poupança. ;Esse dinheiro extra poderá ser fundamental no futuro;, diz.