Economia

FMI reduz estimativas de PIB diante dos problemas na Zona do Euro

Diante dos problemas na Zona do Euro, que vai entrar em recessão, o Fundo Monetário Internacional corta para 3,3% a projeção de crescimento mundial e para 3% a brasileira

Rosana Hessel
postado em 25/01/2012 08:00
Christine Lagarde, do FMI: mercados esquizofrênicos atrapalham
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a maioria de suas projeções de crescimento das economias. Para o organismo multilateral de crédito, o mundo avançará 3,3% este ano e 3,9% em 2013 e não mais 4% e 4,5% como previsto em setembro de 2011. A crise na Zona do Euro, que deve enfrentar uma ;recessão leve; este ano, é o principal fator dessa revisão divulgada ontem.

No documento, o Fundo afirmou que ;o ambiente atual proporciona um terreno fértil para o pessimismo;. Para o Brasil, os dados do FMI apontam uma redução de 0,8 e 0,7 ponto percentual neste ano e no próximo, com expansão estimada em 3% (abaixo da média mundial) e 4%, respectivamente (veja tabela).

;Essa projeção acompanha a realidade brasileira. O país não tem condições de crescer mais do que isso com a atual taxa de investimento (em torno de 19% do Produto Interno Bruto) sem risco de elevar a inflação;, disse o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. Na avaliação dele, somente com aplicações na casa de 25% do PIB, o país conseguiria avançar entre 4% e 5% sem aumento da inflação. No relatório, o Fundo destacou que o país anunciou medidas fiscais que darão suporte ao consumo e para cumprir a meta de superavit fiscal em 2012.

O aumento da desconfiança na capacidade de os governos europeus equacionarem as dívidas levou à queda da classificação da nota soberana da França, que perdeu o triplo A dado pela agência de rating Standard & Poor;s. Na segunda-feira, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, criticou a tendência de muitos de ver a política orçamentária como um jogo moral entre liberalidade e responsabilidade. ;Os próprios mercados têm sido esquizofrênicos sobre a austeridade ; umas vezes premiando-a com juros mais baixos e, noutras, ressaltando a desaceleração do crescimento que isso implica e aumentando os juros;, afirmou ela ao pedir maior contribuição dos fundos de resgate europeus em Berlim.

A Zona do Euro foi a região que mais teve redução das projeções do FMI. Neste ano, o bloco deverá encolher 0,5%, voltando a crescer modesto 0,8% em 2013. A Itália e a Espanha estão com os piores indicadores. O Fundo cortou em 2,5 e 1,1 pontos percentuais as estimativas de crescimento da Itália, que deverá recuar 2,2% este ano e 0,6% no próximo. A economia espanhola recuará 1,7% e 0,3% no mesmo período ; 2,8 e 2,1 pontos abaixo das projeções de setembro de 2011. Já a França crescerá apenas 0,3% este ano e 1% no próximo. As projeções anteriores eram de alta de 1,3% e 1%, respectivamente.

Pior passou
De acordo com o Fundo, o PIB da China deverá saltar 8,2% este ano e não mais 9%, como previsto antes. Em 2013, o país asiático avançará 8,8% em vez de 9,5%. A previsão de expansão dos EUA, de 1,8% neste ano, foi mantida, mas a de 2013 caiu de 1,5% para 0,8%. ;O avanço da economia global agora dependerá de como a economia dos EUA vai se comportar. Acredito que o governo americano deverá aumentar os investimentos para estimular o consumo, já que este ano é um ano eleitoral;, afirmou Alcides Leite. Para ele, a Espanha e a Itália terão dificuldades, mas conseguirão sair da crise atual em que se encontram devido aos planos de austeridade de seus governos. ;O FMI está pessimista, mas eles poderão revisar novamente esses números daqui a três meses e, desta vez, para cima. O pior já passou.;

Risco bancário
É improvável que os grandes bancos usem o financiamento posto à disposição pelo Banco Central Europeu (BCE) para comprar títulos soberanos, dada a preocupação com a oscilação em seus valores, disse Scott Bugie, chefe da área de risco de bancos da agência de classificação Standard & Poor;s. O uso generalizado por bancos europeus de financiamento barato do BCE aumentou a especulação de que o dinheiro extra poderia ; como o presidente francês, Nicolas Sarkozy, sugeriu ; ser usado para comprar títulos de governos. Isso ajudaria a aliviar a crise da dívida da Zona do Euro.

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