postado em 25/01/2012 06:33
Uma pessoa próxima do secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, reconheceu, nos vídeos de segurança do Hospital Santa Luzia, a mulher dele, Cássia Gomes, filmada na noite em que ele morreu por falta de atendimento. O reconhecimento, feito à Polícia Civil do Distrito Federal, desmonta a versão do Santa Luzia, que havia afirmado não ter encontrado registros da passagem do secretário naquele dia.As imagens mostram Cássia entrando na recepção vazia do estabelecimento apressadamente. Ela fala com a atendente, volta ao carro e retorna para dizer algo à atendente (o vídeo não tem som), antes de deixar o hospital. Após o reconhecimento, convencido de que os estabelecimentos não agiram corretamente, o governo federal aumentou a pressão sobre a Polícia Civil-DF nas investigações sobre a morte de Duvanier. A ordem vinda do Palácio do Planalto é desvendar o que ocorreu na madrugada da quinta-feira (19), quando o secretário passou pelos hospitais Santa Lúcia, Santa Luzia e Planalto, no qual morreu após um infarto.
A Delegacia do Consumidor (Decon), que conduz o inquérito que vai averiguar a exigência de cheque-caução, também ouviu ontem os depoimentos de três funcionários do Santa Luzia e de outros três do Planalto. Já o delegado chefe-adjunto da 1; Delegacia de Polícia, Johnson Kenedy, responsável pelo inquérito que investigará a morte, disse que o trabalho já foi iniciado, mas ressaltou que a apuração ocorre em sigilo. Em ambos os casos, a Polícia acredita ter informações suficientes para indiciar os responsáveis dos hospitais por omissão de socorro qualificada e homicídio culposo (quando não há intenção de matar).
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, quer ainda que os hospitais expliquem a blindagem feita pela equipe de atendentes, que impede que os pacientes sequer tenham a oportunidade de ser avaliados por um médico. Para a Polícia, a estrutura burocrática que avalia primeiro se o paciente tem condições de pagar ; via plano de saúde, à vista ou com a apresentação de um cheque-caução ; para depois prestar os cuidados aumenta o risco de erro. ;As administrações dos hospitais determinam previamente um comportamento negligente quando não colocam um médico para atender o paciente e, primeiro, estipulam um preço;, disparou o diretor-geral da Polícia Civil-DF, Onofre Moraes.
Inversão de papel
Na avaliação do médico e pesquisador da PUC-SP Eduardo Perillo, a lógica econômica que tomou conta dos prontos-socorros particulares é perigosa para o cidadão. ;Hoje há primeiro uma avaliação financeira. É uma inversão no papel do hospital;, afirmou. Para Perillo, o argumento do hospital Santa Lúcia, o primeiro pelo qual o secretário Duvanier passou, de que ele ;chegou andando calmamente e saiu andando calmamente; é um sinal de que há falhas no atendimento. ;O hospital quer jogar sobre o paciente a responsabilidade de avaliar sua própria situação de saúde e alertar para a urgência, mas essa não é a obrigação do doente. Esse é o papel do serviço de pronto-atendimento;, ponderou.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Iran Gonçalves Cardoso, é a favor da avaliação prévia feita por um profissional de saúde. Para ele, o procedimento aceleraria o atendimento nas clínicas específicas para cada paciente. O CRM-DF também foi acionado pelo Ministério da Saúde para investigar a conduta dos médicos e hospitais pelos quais passou o secretário Duvanier.
Protesto
Amigos, parentes e companheiros de profissão do secretário Duvanier Paiva Ferreira farão hoje, às 13h, um ato de repúdio em frente à Catedral de Brasília. ;A ideia é levantarmos uma bandeira, junto com outras famílias e entidades correlatas, sobre o descaso da rede privada de saúde e o não cumprimento da legislação;, afirmou um dos organizadores. A missa de 7; dia será celebrada na Catedral, às 12h15.