Economia

Banco Central quer reduzir juros da taxa Selic a apenas um dígito

postado em 27/01/2012 08:00
Alexandre Tombini, do BC: próximo do modelo de transparência do Fed O Banco Central quebrou um padrão ontem com a divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada. Ao assumir, em um documento oficial, que é elevada a probabilidade de a taxa básica de juros (Selic), fixada em 10,50% ao ano, chegar a um dígito nos próximos meses, a autoridade monetária se aproximou do Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) com o objetivo de dar mais transparência aos seus movimentos, indicando aos investidores o que pode fazer nos passos seguintes. No mês passado, o Fed decidiu que era hora de passar a divulgar as projeções de juros de seus integrantes.

Segundo o economista Carlos Thadeu Filho, da gestora de recursos Franklin Templeton, essa mudança de discurso já vinha sendo desenhada pelo BC de Alexandre Tombini há alguns meses, quando o Copom passou a falar em ;ajustes moderados; da Selic. Até então, a retórica do Copom era a de que os rumos da taxa de juros dependiam dos ;cenários prospectivos; para a inflação. Ou seja, o BC não se comprometia com uma queda ou uma alta da Selic explicitamente. Cada reunião do Copom era precedida de muita tensão. Nessa ata, as expressões foram excluídas em troca de mais clareza.

No entender de Thadeu, tudo indica que, nos próximos dois anos, o BC já terá condições de fazer como o Fed: mostrar como os seus integrantes veem as taxas de juros por um período de três ou quatro anos à frente. ;Será um ganho e tanto para a economia, pois o Copom reduzirá os riscos das empresas e os riscos de crédito;, disse. ;Teremos um mercado futuro de juros bem menos volátil.;

Para especialistas, o BC de Tombini deixou claro que está preocupado com o crescimento do país e quis, com o comunicado, pressionar para baixo os juros das operações de crédito sem ter que adotar medidas efetivas. O efeito foi imediato: o mercado de juros futuros no Brasil reagiu às palavras do BC e todos os contratos registraram recuo nas taxas. ;Se alguém tinha dúvidas do que o Banco Central ia fazer, agora não tem mais;, observou André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimento.

A declaração do BC tem potencial para afetar os juros na vida real mais do que o corte de 0,5 ponto percentual na Selic. Como as instituições financeiras se baseiam nas expectativas para determinar os custos dos financiamentos, essa sinalização tende a derrubar as taxas das operações para consumidores e empresas. O problema, na visão de Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, está no ano que vem. ;Em janeiro de 2013, o BC será obrigado a voltar a subir os juros. A economia deve se aquecer demais no segundo semestre deste ano e gerar pressões inflacionárias;, argumentou.

Na visão de Perfeito, a ata indicou que haverá continuidade da agenda econômica que mistura arrocho fiscal com afrouxamento monetário. ;Tombini deve ter tido uma garantia da própria presidente Dilma Rousseff de que haverá contenção das despesas públicas. Sem isso, seria temerário promover tantos cortes na Selic;, afirmou. ;Na última semana, Tombini esteve na reunião ministerial para definir cortes no Orçamento e pode ter tido uma indicação do tamanho do corte, o que deixou o BC confortável para dar ênfase ao ajuste monetário;, corroborou Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Arab Banking Corporation (ABC Brasil).

Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank, concorda. ;A ata deixou claro que há uma avenida para cortar juros. O que era uma porta virou um portão;, frisou. A visão se justifica ainda nas avaliações do BC em relação ao cenário internacional, descritas na ata quando a instituição declara que o ;quadro de restrição ao qual estão expostas diversas economias; deve se prolongar. Essa situação deve conter os preços no Brasil, sobretudo devido à desaceleração econômica e à cotação dos produtos básicos em queda.

Benefício

O governo se beneficiou com o comunicado enfático do Banco Central. Em um leilão de títulos ontem, as taxas de todos os papéis oferecidos pelo Tesouro Nacional recuaram. Foram vendidos papéis no valor de R$ 4,56 bilhões. Comparada à oferta da semana passada, a taxa máxima do prefixado com vencimento em abril de 2014 ficou em 10,56%, abaixo dos 10,72% anteriores. O papel com prazo de janeiro de 2016 saiu a 11,15%, inferior aos 11,21% de antes.

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