Rosana Hessel
postado em 08/02/2012 07:00
Diante dos crescentes rumores no mercado financeiro sobre um possível pedido de demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, envolvido em denúncias de corrupção na Casa da Moeda, o Palácio do Planalto tratou ontem de escalar emissários para dissipar qualquer dúvida sobre o assunto. O recado da presidente Dilma Rousseff repassado por eles aos analistas foi claro: ;Mantega fica onde está. E mais forte do que nunca;. Ao mesmo tempo, o Planalto montou uma tropa de choque no Congresso Nacional para blindar o ministro e evitar a sua convocação pela oposição, que cobra explicações sobre a demissão de Luiz Felipe Denucci da presidência da Casa da Moeda.
Mantega está sob intenso tiroteio há uma semana, quadro que se agravou devido ao silêncio comprometedor adotado por ele em relação a Denucci. Somente na sexta-feira passada, o ministro emitiu algumas palavras sobre as denúncias de que o ex-presidente da Casa da Moeda havia recebido propina de US$ 25 milhões em paraísos fiscais por determinação de Dilma. Mesmo assim, ampliou o mal-estar ao dizer que não conhecia o ex-subordinado quando o nomeou para o comando da estatal a pedido do PTB, partido da base aliada do governo. O líder da legenda na Câmara, Jovair Arantes (GO), rebateu Mantega e assegurou que o demitido era escolha pessoal do titular da Fazenda.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a grande preocupação do mercado é ;que até a base aliada do governo quer fritar o ministro, forçando uma convocação constrangedora; no Congresso. Mas, a seu ver, se Mantega cair, nada mudará. ;A política econômica está alicerçada na figura da presidente da República, não será uma mudança na Fazenda que tirará do prumo as linhas gerais do programa econômico;, afirmou. O economista Frederico Turolla, sócio da Pezco Consultoria e Pesquisa, endossou: ;Não vejo risco de mudança significativa. A saída de Mantega não mudaria os rumos da política econômica;.
Convocação
Ontem, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), líder da bancada tucana, apresentou dois requerimentos à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para que Mantega e Denucci sejam convocados. O presidente da CAE, Delcídio do Amaral (PT-MS), determinou que os pedidos sejam votados na próxima terça-feira. A bancada do DEM na Câmara também protocolou requerimento de convocação do ministro da Fazenda no plenário da Casa. O pedido, apresentado pelo deputado Mendonça Filho (PE), precisa ser incluído na pauta pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), para poder ser votado. Mas ele já se posicionou contra a ideia. ;O plenário da Câmara é um espaço nobre, destinado a grandes debates de relevância nacional. Essa questão não é um grande tema nacional, é um tema específico que, por isso, tem que ser discutido nas comissões;, disse.
Cortes indefinidos
O governo está acelerando o passo para fechar as contas e anunciar os corte nos Orçamento deste ano, que devem ficar em torno de R$ 60 bilhões. A meta é divulgar o arrocho ainda na primeira quinzena de fevereiro. Ontem, antes de uma reunião com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez questão de ressaltar que nada está decidido. ;Ainda não temos o valor do corte;, disse. O mercado financeiro espera ansioso pelo número para medir qual realmente é o compromisso do governo com a promessa de cumprir a meta de superavit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).