Agência France-Presse
postado em 29/03/2012 09:38
Madri - A Espanha vive nesta quinta-feira (29/3) uma greve geral, com alguns incidentes isolados, que terminará em uma grande manifestação em Madri contra a reforma trabalhista e as políticas de rigor decretadas, sob estreita vigilância da União Europeia (UE), pelo governo do conservador Mariano Rajoy."Esta greve foi um sucesso democrático e social indiscutível", disse Cándido Méndez, secretário-geral da UGT, um dos dois grandes sindicatos espanhóis responsáveis pela convocação da mobilização, junto com a outra central majoritária, CCOO.
Méndez informou sobre uma participação média de 77%, enquanto seu homólogo do CCOO, Ignacio Fernández Toxo, informava: "a incidência é superior nos setores industriais e um pouco menor no âmbito dos serviços".
"Nosso objetivo é que o governo corrija profundamente a reforma trabalhista", insistiu Méndez.
Consciente de que a Espanha volta a ser tema de preocupação para seus sócios europeus, a ministra de Emprego, Fátima Báñez, buscou passar uma imagem de firmeza e assegurou que "a agenda reformista é irrefreável".
"As partes frontais da reforma (trabalhista) não vão ser modificadas porque entendemos que são as necessárias para voltar a um crescimento econômico que se transforme o quanto antes em criação de emprego", assegurou.
A ministra afirmou que a greve se desenrolava "com absoluta normalidade e sem incidentes importantes".
Algumas das ocorrências de maior destaque ocorreram em Barcelona, onde 17 pessoas foram detidas depois que a polícia entrou em confronto no centro da cidade com grupos de jovens que incendiaram contêineres e danificaram o mobiliário urbano.
Tanto em Barcelona quanto em Madri, desde o início da manhã grevistas se reuniram em frente às portas de mercados centrais, grandes bancos e empresas.
Centenas deles se concentraram posteriormente no centro de Madri, prelúdio da grande manifestação, que terminaria durante a tarde com a mobilização, vigiados de perto por um grande dispositivo policial, que ocupou a conhecida Porta do Sol.
"Nem um passo atrás com a reforma. Greve geral", gritavam os manifestantes.
Junto aos sindicatos, o movimento dos indignados também quis protestar a sua maneira com uma grande manifestação de bicicleta, atrapalhando o tráfego, e dormindo nas ruas em uma enorme "sesta coletiva".
"Temos que enviar uma mensagem clara ao governo de que eles não podem fazer tudo o que têm vontade só por ter uma maioria", afirmou Marta Rosado, uma auxiliar de escritório de 28 anos que utilizava um adesivo "Em greve".
Sindicatos e indignados protestam contra uma reforma do mercado de trabalho, aprovada no dia 11 de fevereiro pelo governo de Mariano Rajoy, com o objetivo de relançar a criação de emprego, em um país com uma taxa de desemprego recorde de 22,85%, que castiga especialmente os jovens com menos de 25 anos (48,6%).
Os promotores do protesto, por sua vez, consideram que a reforma só barateia as demissões e aumentará a destruição de emprego.
O próprio executivo admitiu a destruição de 630 mil empregos em 2012 e um desemprego de 24,3% no fim do ano.
[SAIBAMAIS]A mobilização, a sexta desde o restabelecimento das liberdades sindicais, em 1977, ocorre um dia antes de o governo aprovar os orçamentos gerais para 2012, que devem ser rigorosamente austeros, e que serão analisados atentamente pelos ministros das Finanças do Eurogrupo, reunidos no mesmo dia em Copenhague.
O grande objetivo do governo é reduzir o déficit público espanhol a 5,3% do PIB combinado com a União Europeia, após o grande desvio que o levou aos 8,5% em 2011, para o que, segundo diferentes cálculos, será necessário um ajuste entre 41,5 bilhões a 55 bilhões de euros.