postado em 06/04/2012 17:34
Apesar do volume de empréstimos desembolsados para práticas sustentáveis no campo ter dobrado na safra agrícola 2011/2012, os níveis de acesso às chamadas linhas verdes ainda são irrisórios. A conclusão é do estudo Financiamento Agroambiental, lançado pelo Instituto Socioambiental (ISA), que aponta gargalos na operacionalização desse incentivo econômico, a partir de entrevistas com 87 produtores e três agentes financeiros, desde 2010.De acordo com a engenheira agrônoma Léa Vaz Cardoso, assessora do ISA, o financiamento impõe desafios tecnológicos ao produtor brasileiro. O carro-chefe dessas linhas de crédito é o Programa para a Redução de Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (ABC), lançado em 2010, que propõe modelos mistos de produção.
;As linhas financiam tecnologias um pouco mais complexas que as tradicionais, são sistemas diversificados. Quando você compara uma lavoura de soja em monocultivo, o pacote tecnológico é completamente conhecido. Quando coloca um sistema integrado como lavoura-pecuária-floresta, você passa a ter três produtos numa mesma área, com diferentes prazos e ciclos;, disse.
Um outro ponto, segundo a agrônoma, é que os agricultores não conhecem essas linhas diferenciadas. ;O produtor até pode ter intenção de, por exemplo, recuperar Áreas de Proteção Permanente (APP), mas ainda não faz por questões financeiras. E ainda tem a indefinição de decisões sobre o novo Código Florestal e a burocracia ambiental, que assustam esse produtor;, disse a assessora.
A solução, na opinião de Léa Vaz Cardoso, está em investimentos em capacitação e na divulgação e promoção de tecnologias. A agrônoma ainda defende que os benefícios ;verdes; sejam ampliados dentro de linhas de crédito tradicionais, incluindo uma espécie de ;reconhecimento e premiação; aos agricultores que conservam ou recuperam APPs, por exemplo.
;O agricultor incorre em um custo ao preservar essas áreas. A gente está com uma legislação que está preste a mudar, mas o comando-controle sozinho não é suficiente. O instrumento econômico é complementar à legislação. E não há mal algum, na nossa visão, ajudar o agente econômico a cumprir a lei;, disse Léa Cardoso.
Ainda faltam três meses para o fim do ano agrícola (2011/2012), mas o Banco do Brasil já contabiliza R$ 430 milhões desembolsados. Em toda a safra anterior, o banco desembolsou pouco mais de R$ 230 milhões. A agrônoma do ISA considera que o incremento é resultado de uma ação maior do agente financeiro e do governo, mas alerta que o valor ;ainda é marginal em relação aos outros créditos. Estamos falando em quase R$ 500 milhões para linhas sustentáveis, sendo que já foram emprestados mais de R$ 70 bilhões para outras práticas, ou seja, menos de 1% na conta;.
O diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Clênio Severio Teribele, não acredita na insegurança dos produtores brasileiros. ;Basta verificar o crescimento da produtividade no Brasil, que a gente atribui a competência dos nossos agropecuaristas;, disse. Mas o executivo do banco admite o desconhecimento do crédito e a falta de capacitação para a tomada do financiamento.
;O que a gente percebe é que o mercado ainda não conhece essas linhas. Temos dificuldade na obtenção de bons projetos. A assistência técnica não chega a todos os locais e precisamos que chegue;, disse Teribele, acresentando que o banco está investindo em uma rede de parcerias com cooperativas, agrônomos e técnicos, para o treinamento para elaboração de projetos. ;Temos todos os motivos para acreditar no bom desempenho dessas linhas;, disse.