Paula Takahashi
postado em 14/04/2012 09:18
A redução das taxas de juros na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil está deixando os bancos privados brasileiros com um olho no governo e outro na concorrência. No governo, porque a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) espera resposta para a lista de mais de 20 sugestões que apresentou ao Planalto para a redução do spread bancário (diferença entre quanto os bancos pagam pelos recursos tomados e os valores cobrados nas taxas que oferecem). Nos concorrentes, porque o HSBC começa, na próxima segunda-feira, a cobrar juros mais baixos para o crédito pessoal, consignado e cheque especial, aumentando a pressão para que os demais sigam a mesma tendência. Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating e especialista no setor financeiro, alerta: ;É preciso ter expectativas realistas e deixar a ingenuidade de lado. As instituições bancárias não vão cobrar preços de fim de feira para todos;. Segundo ele, os bancos públicos que já reduziram as taxas de juros só o fizeram para algumas modalidades de crédito e o HSBC adotou postura parecida. ;Os clientes serão enquadrados conforme o seu perfil.; Santacreu acredita, no entanto, que as instituições financeiras privadas vão aguardar as medidas do governo para as propostas que foram colocadas na mesa. ;Caso se adiantem depois da discussão com o governo, vai parecer que estão abaixando a cabeça, e isso não vão fazer.; Para conferir como as instituições financeiras estão se posicionando, a reportagem do Estado de Minas foi, se identificando apenas como potencial cliente, a agências dos seis maiores bancos do país.Pontuação da Caixa
Chegamos à agência da Caixa como clientes interessados em saber sobre a redução dos juros para as linhas de crédito que o banco oferece. Para o cheque especial, a taxa é imbatível. Vai de 1,35% a 4,27%. A variação depende do perfil do cliente e do relacionamento dele com o banco. ;A Caixa tem uma pontuação para clientes que têm poupança e aplicação;, disse a gerente que nos atendeu. Em resumo: quanto melhor o relacionamento com o banco, menor as taxas de juros. Para o CDC , quem recebe salário pela instituição paga 2,39% de juros ao mês. Um empréstimo de R$ 5 mil em 36 prestações custa R$ 276,18 ao mês. Para quem não está nessa situação, o juro sobe a 3,88% ao mês e a prestação para R$ 323,92. No consignado para aposentados, a taxa mensal é de 1,80% e a mensalidade para crédito tomado em igual valor e período é de R$ 258,40. Quem quer financiar um veículo novo de R$ 40 mil com entrada de 50% em 36 prestações vai pagar juro de 1,89% ao mês e mensalidades de R$ 791,24. Não há condições especiais para o cliente que quer mudar de banco e abrir conta na Caixa.
Barreiras no Itaú
Consumidores que não têm conta no banco Itaú não conseguirão fazer qualquer simulação de financiamento ou crédito pessoal para comparar as taxas utilizadas. A informação repassada em mais de três agências visitadas é de que o serviço só está disponível para correntistas, diante da necessidade de avaliação do perfil do cliente e aprovação das linhas de crédito. ;Mesmo que você abra uma conta aqui, ainda é preciso esperar cerca de seis meses para ter o crédito pré-aprovado em financiamento de veículos e crédito pessoal. Em alguns casos, o cheque especial é liberado na hora, mas não é regra;, informa uma funcionária. Questionada sobre a possibilidade de o banco também baixar a taxa de juros, seguindo o movimento dos públicos e do HSBC, ela garante que não foi repassada qualquer informação aos funcionários e que não há previsão para que isso ocorra. Diante da insistência de uma média de taxas praticadas pela empresa, ela informa que para cheque especial é de 8,95% e crédito pessoal de 6,5%. ;Financiamento de veículo varia de acordo com uma série de fatores que inclui ano, parcelas e entrada.;
HSBC na disputa
Ao falar para a funcionária da agência que gostaria de saber sobre as novas taxas de juros anunciadas pelo banco, ela logo informa. ;Acabou de chegar uma nota dizendo que as condições entram em vigor no dia 16, segunda-feira.; E ainda acrescenta. ;Já percebi que para financiamento de automóvel houve mudanças desde o início da semana porque fiz cotação para clientes que mostram uma queda;, afirma. Segundo seus cálculos, os juros mensais passaram de cerca de 1,47% para 1,26% nas condições informadas pelo correntista. ;No crédito para pessoa física ainda não percebi qualquer alteração, mas muitos clientes já me mandaram e-mail perguntando sobre a novidade. Tenho orientado a eles que aguardem segunda para terem acesso aos novos valores;, diz. Em simulação de um veículo de R$ 40 mil, com financiamento de R$ 20 mil, o valor da parcela é de R$ 719,65 em 36 vezes com taxa de juros de 1,26% ao mês. Já no caso do empréstimo pessoal de R$ 5 mil pago em 24 parcelas, o valor da mensalidade fica em R$ 433,91 com juros de 6,49% ao mês.
Diferença no BB
No Banco do Brasil, o funcionário garante que as novas taxas já estão valendo, muitas delas desde segunda-feira. Mas para ter acesso aos juros divulgados pelo banco, como no caso destinado ao cheque especial, que parte de uma taxa de 1,97% ao mês, e empréstimo pessoal, de 2,99%, é necessária a realização da análise de crédito do cliente. Ainda assim, o funcionário não reconhece taxas tão baixas e é enfático: ;No caso do cheque especial, se o correntista estiver usando a linha por dois meses consecutivos, o banco entra em contato oferecendo o parcelamento da dívida em 24 vezes com juros a cerca de 3%;, resultado superior ao mínimo informado pelo banco. Com taxa partindo de 0,99% ao mês no anúncio feito pelo banco ao mercado, o financiamento de R$ 20 mil para aquisição de um veículo de R$ 40 mil teve taxa de 1,15% para quitação em 36 parcelas. Para todas as outras categorias de crédito, ele se recusa a fazer a simulação, alegando a necessidade de avaliação de crédito. Para se alcançar as taxas mais competitivas, é preciso atender uma extensa lista de critérios.
Bradesco sem expectativa
Nas agências do Bradesco ainda não há expectativa de redução dos juros. De acordo com a funcionária que nos atendeu, tudo o que ela sabe sobre o assunto ;vem das notícias que leio nos jornais;. Também não há condições especiais de juros para clientes que estão pensando em trocar de banco e abrir conta lá. No cheque especial, a taxa é uma só: 8,9%. Quem quiser fazer um empréstimo pessoal (CDC) de R$ 5 mil em 24 parcelas vai pagar taxa de 6,31% ao mês. Ou seja: serão prestações mensais de R$ 431,81. O juro pode ser um pouco menor, dependendo da ;credibilidade; do cliente, avisa a funcionária. Os interessados em financiar um veículo zero quilômetro de R$ 40 mil terão que dar pelo menos R$ 4 mil de entrada. Nesse caso, os juros são de 2,09% ao mês e a prestação é de R$ 1.671,05. Se a entrada for de 50% (para financiamento de igual prazo e valor), a taxa cai para 1,88% e a prestação para R$ 807,35. O banco também trabalha com juros que ficam maiores ou menores conforme o volume de aplicações que o cliente tem em conta e o grau de risco que ele representa para a instituição.
Santander na dependência
O cliente que estiver pensando em mudar de banco e quiser pesquisar as taxas de juros praticadas pelo banco Santander terá problemas para conseguir informações. Chegamos à agência e levamos pouco tempo para sermos atendidas. Explicamos à gerente a intenção de trocarmos de instituição e a pesquisa que estávamos fazendo para apurar se valia a pena fazer isso, de acordo com as taxas de juros praticadas lá. ;As taxas dependem do perfil do cliente. É preciso fazer uma análise de crédito para defini-las;, disse a gerente. Foi preciso argumentar, lembrando a ela que um potencial cliente que está fazendo pesquisa sobre taxas de juros para mudar de banco não poderia sair de lá sem a informação, sob o risco de não voltar. Depois disso ela revelou que a taxa para o cheque especial é de 9,95%, mas o cliente tem 10 dias livres de juros. Para o CDC, as taxas vão de 2% a 8%. No consignado, de 1,8% a 5%, e para veículos novos de 1,4% a 3%. Caso o cliente dê entrada de 50%, ela fica em 2,08% ao mês. ;Estamos esperando que os juros caiam na semana que vem, mas não há nenhum aviso oficial do banco.;