Agência France-Presse
postado em 17/04/2012 15:37
Buenos Aires - Ao expropriar a empresa petroleira YPF, controlada pela espanhola Repsol, a Argentina obterá um caixa que lhe permitirá fazer frente à alta vertiginosa de suas importações de hidrocarbonetos, mas o custo pode ser elevado em perdas de investimentos estrangeiros, dizem especialistas de mercado.A expropriação de 51% das ações da YPF, acusada de não investir o suficiente, foi anunciada na segunda-feira (16/4) pela presidente Cristina Kirchner, enquanto que a importação de hidrocarbonetos do país cresceu 110% no ano passado, para 9,4 bilhões de dólares, disseram analistas.
"A Argentina possui um problema de perdas de reservas de petróleo e gás", disse o especialista em política energética Francisco Mezzadri. Segundo o especialista, a demanda de gás importado está pondo em dificuldades a balança comercial do país.
Segundo o ex-ministro argentino da Economia, Roberto Lavagna, "não há uma maneira de suportar essas importações energéticas, que devem ficar em mais de 12 bilhões de dólares em 2012".
Desse ponto de vista, "a curto prazo, a nacionalização da YPF pode representar um grande negócio para o governo pelo faturamento anual de 65 bilhões de pesos (14 bilhões de dólares) da empresa", disse o ex-secretário de Energia, Emilio Apud.
"Esta renacionalização forçada da principal empresa petroleira do país (privatizada em 1992), sem negociar sua tomada de controle, mostra que a presidente está desesperada para obter resultados", disse Anita Paluch, analista da consultora Gekko Global Markets, em Londres.
O problema para o governo é ainda maior se for levado em conta que a população está acostumada a preços muito baixos em energia", disse Mezzadri, ao recordar que os subsídios que beneficiam os argentinos, especialmente do gás, estão sendo suspensos.
Contudo, a medida argentina traz um elevado risco de diminuição dos investimentos estrangeiros no país, dizem os analistas.
"A decisão de Buenos Aires dá um sinal muito negativo para os investidores internacionais e poderá danificar gravemente a confiança dos investidores no país", disse a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
A União Europeia decidiu postergar a reunião com a Argentina prevista para os dias 19 e 20 de abril.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, se declarou nesta terça-feira profundamente decepcionado pela expropriação que desencadeou uma crise em Madri.
[SAIBAMAIS]A Repsol, por sua vez, pretende reivindicar uma compensação via arbitragem internacional, que poderá superar os 10 bilhões de dólares.
"A Repsol iniciará todas as ações legais que estão a seu alcance", afirmou o presidente da companhia, Antoni Brufau, que advertiu que "esses atos não ficarão impunes".
No caso da empresa francesa Suez, que pediu 930 milhões de euros à Argentina após ter perdido a concessão para a distribuição de água, o Centro Internacional para o Acordo de Conflitos sobre Investimentos reconheceu em 2010 a responsabilidade da Argentina. Contudo, até o momento, não foi fixado o valor a ser pago.