Agência France-Presse
postado em 26/04/2012 18:21
Rio de Janeiro - O secretário de Defesa americano, Leon Panetta, usou sua viagem ao Brasil para acabar com dúvidas de Brasília sobre o compromisso de Washington em transferir tecnologia caso o país adquira o caça Boeing F/A-18 Super Hornet.Panetta, que encerrou uma visita de dois dias nesta quinta-feira (26/4), tentou minimizar preocupações de que os Estados Unidos poderiam usar a transferência tecnológica - um fator-chave para a escolha sobre qual jato o Brasil comprará - como ferramenta política.
O F/A-18 está competindo com o caça francês Rafale e com a aeronave sueca Gripen, da companhia Saab, por um contrato com o Brasil para a compra de 36 caças de nova geração avaliados entre 4 bilhões e 7 bilhões de dólares.
O Brasil, sexta maior economia mundial, insiste agora na necessidade de transferência tecnológica em todos seus acordos de defesa.
Panneta ofereceu na quarta-feira (25/4) ao Brasil "tecnologia avançada sem precedentes, compartilhada apenas com nossos aliados e parceiros mais próximos".
"Entendemos que o Brasil não procura ser apenas comprador de um caça, mas um parceiro maduro no desenvolvimento de tecnologia de aviação de ponta", disse em discurso em uma academia militar. "Com o Super Hornet, a defesa e a indústria de aviação do Brasil seriam capazes de transformar suas parcerias com empresas americanas, e teriam a grande oportunidade de se conectar a mercados globais", acrescentou.
Mas autoridades brasileiras estão cautelosas sobre o possível uso político, por parte de Washington, das restrições tecnológicas. Em 2006, os Estados Unidos bloquearam a compra de 24 caças Super Tucano produzidos pela Embraer para a Venezuela, porque as aeronaves continham componentes feitos nos Estados Unidos. O Super Tucano é uma aeronave usada em contra-insurgência, apoio aéreo próximo, missões de reconhecimento aéreo e treinamento de pilotos.
Em coletiva de imprensa ao lado de Panetta em Brasília nesta quinta-feira (26/4), o ministro da Defesa, Celso Amorim, enfatizou que o governo quer que os caças a serem adquiridos sejam produzidos localmente.
O Brasil pretende desenvolver sua própria indústria de defesa e quer montar aeronaves com tecnologia estrangeira para exportação, um plano que Panetta parece apoiar, apesar de considerar que isso é uma mudança na política americana.
"Houve um tempo em que os Estados Unidos desencorajavam o desenvolvimento militar de países da América Latina e Central", afirmou o secretário de Defesa americano na quarta-feira. "Hoje, pensamos que o desenvolvimento desse tipo de capacidade é importante se pudermos usá-la para criar parcerias inovadoras, avançar na segurança da região", completou.
Panetta afirmou que Washington raramente nega licenças de exportação de tecnologia ao Brasil. Autoridades americanas afirmaram que os pedidos de tecnologia para o Brasil subiram 139% desde 2007. No entanto, foi motivo de irritação para o país o cancelamento por parte dos Estados Unidos de um contrato de 380 milhões de dólares com a Embraer para comprar 20 AT-29 Super Tucano destinados ao Exército afegão.
A Embraer e sua parceira americana Sierra Nevada fecharam o contrato em dezembro, mas a Força Aérea americana cancelou o acordo em fevereiro após um processo impetrado pela rival Hawker Beechcraft Corp. O Pentágono pediu uma nova rodada de licitações para o contrato, mas de qualquer forma o equipamento não ficará disponível antes de 2014.
Na quarta-feira (25/4), Panetta também enfatizou o crescimento do Brasil no cenário internacional. "Esta é uma relação entre duas potências globais, e nós comemoramos o avanço da força do Brasil. Apoiamos o Brasil como líder global e procuramos uma cooperação mais próxima", acrescentou.
"Não concordaremos em todas as questões - nem os mais próximos aliados o fazem. Mas acredito que nossos interesses comuns são tão grandes, e as possibilidades de nossa cooperação são tão tangíveis, que devemos aproveitar esta oportunidade para construir uma parceria em defesa mais sólida", disse.
O secretário de Defesa iniciou sua primeira visita à América Latina na Colômbia na segunda-feira e seguirá para o Chile após o Brasil.