Economia

Europeus exibem divisões sobre planos para reforçar sistema bancário

Agência France-Presse
postado em 03/05/2012 15:07
Bruxelas - Os países europeus demonstraram suas divisões em Bruxelas sobre os planos para reforçar o sistema bancário e torná-lo mais resistente a uma futura crise, adiando o acordo final para 15 de maio, com a Grã-Bretanha mais uma vez contrária a assinar o documento.

"Temos um compromisso. Ainda precisamos de um trabalho técnico", afirmou a ministra dinamarquesa, Margrethe Vestager, cujo país ocupa a presidência semestral da União Europeia (UE), após uma reunião de mais de 16 horas de ministros da Economia do bloco em Bruxelas. "O acordo deverá estar totalmente concluído para a próxima reunião ministerial dos 27 países da UE em 15 de maio, após verificações técnicas sobre os últimos pontos que faltam resolver", completou.

Os 27 querem aumentar as reservas de capital das instituições financeiras, com o objetivo de obter uma proteção de futuras crises, dentro das novas normas denominadas "Basileia III", que devem ser implantadas progressivamente a partir de 2013.

A reunião para tornar mais eficaz o setor, um dos mais castigados pela crise da dívida europeia, ocorre em um momento em que o sistema bancário espanhol tem se tornado um dos principais motivos de preocupação para os mercados, após o estouro da bolha imobiliária, em 2008.

"Neste momento de crise financeira, é fundamental tirar todo tipo de dúvida sobre a qualidade e a solvência das instituições bancárias europeias", disse na quarta-feira (2/5) o ministro de Economia espanhol, Luis De Guindos. Segundo o ministro, os bancos espanhóis estão acima das exigências de capital previstos na nova norma da UE, tanto "do ponto de vista do que é a qualidade do capital, como do ponto de vista do que são os níveis de capital".

O Banco da Espanha revelou recentemente que o setor acumulava 184 bilhões de euros em ativos imobiliários problemáticos ao final de 2011, ou seja, 60% de sua carteira. Por isso, o banco central espanhol avalia a transferência dos ativos tóxicos imobiliários do conjunto do banco a uma agência para que tente vendê-los, confirmou De Guindos. "Isso reduziria a exposição bancária ao setor imobiliário", explicou.

De acordo com a revista britânica The Economist, os bancos espanhóis precisarão de "muito mais capital", estimado entre 60 e 80 bilhões adicionais.

A possibilidade de que a Espanha solicite recursos do fundo de resgate europeu ganha força, ante as dificuldades do estado espanhol em cuidar do setor e cumprir ao mesmo tempo as duras medidas de austeridade exigidas por Bruxelas.

"Confiamos nas medidas que com responsabilidade tem tomado o governo espanhol", disse o ministro sueco Anders Borg, que recentemente alertou sobre a "urgência" de que a Espanha resolva os problemas de seus bancos porque, do contrário, poderá precisar de ajuda econômica internacional.

Em uma tentativa de conciliação, a atual presidência dinamarquesa da UE propôs criar um colchão adicional para riscos sistêmicos de até 3%, sem consultar com Bruxelas. Contudo, se os estados decidem passar desse patamar, deverão contar com a autorização da Comissão Europeia (CE), o aval do Conselho Europeu de Riscos Sistêmicos (CERS) e da Autoridade Bancária Europeia (EBA).

Os alertas sobre a saúde dos bancos europeus têm aumentado muito nos últimos dias, o que tem se refletido nos mercados.

Ao final da reunião desta quinta-feira, o ministro britânico, George Osborne, rejeitou a última proposta sobre os planos europeus para reforçar os bancos, afirmando que o fato de aceitá-la "o faria passar por idiota".

O principal ponto de atrito é sobre qual a margem de ação sobre as autoridades nacionais para exigir níveis de capital aos bancos e se a regulação ficará em mãos da Comissão Europeia (CE).

Na reunião "extraordinária" de quarta-feira (2/5), a Grã-Bretanha, apoiada pela Suécia, afirmou desejar obter "flexibilidade" para impor maiores reservas de capital sobre os bancos de seu território, além dos 7% mínimos previstos no acordo Basileia III, sem ter que consultar a Bruxelas. Por outro lado, Alemanha e França buscam uma harmonização, sob a égide da Comissão Europeia, e assim evitar que os bancos concentrem ativos de risco em outros estados-membros.

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