Economia

Entidades produtivas reduzem projeção do PIB deste ano para 3,2%, diz Ipea

Rosana Hessel
postado em 15/05/2012 15:00
O setor produtivo está mais pessimista que o governo em relação ao crescimento da economia e acaba de reduzir as projeções para 2012. Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a equipe econômica ainda insistem em manter a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas pelo país no ano), de 4% a 4,5%, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), estima que o PIB brasileiro avançará 3,2% neste ano, abaixo dos 3,5% previstos entre janeiro e fevereiro.

Com isso, o dado apurado junto a empresas e entidades do setor produtivo entre março e abril e divulgado nesta terça-feira (15/5), mostra que quem está ligado à produção no país faz apostas menos ambiciosas que Mantega. As expectativas em relação à inflação, entretanto, melhoraram um pouco. Caíram de 5,3% para 5,1%, mas, mesmo assim, ainda ficaram acima da meta do governo, de 4,5% no ano, a mesma de 2011 e que foi superada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que encerrou o ultimo ano no teto da meta: 6,5%.

De acordo com o levantamento do Ipea, as entidades e associações ligadas à indústria brasileira entrevistas projetaram uma taxa de câmbio para o fim do ano de R$ 1,80. Enquanto isso, a previsão do governo era que a moeda americana encerrasse 2012, cotada a R$ 1,76.

Procurado, o Ministério da Fazenda afirmou que não irá mudar as metas de crescimento e de inflação. Em entrevista à Agência Estado, entretanto, o ministro da Fazenda sinalizou uma mudança no discurso em meio ao recrudescimento da crise europeia e da forte alta do dólar que voltou a romper a barreira de R$ 2 nesta terça-feira. Disse que um piso de 2,7% para o PIB "é muito bom". "Não existe hipótese de crescimento abaixo de 3% neste ano", sentenciou. Sobre a crise europeia, Mantega assegurou que o impacto no crescimento aqui será menor que em outros países. "O contágio externo no Brasil virá com menor crescimento", completou. Em relação à alta na moeda norte-americana, o ministro comemorou. "Eu e a torcida do flamengo e a do fluminense estamos satisfeitos com o dólar", brincou.

Para o economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES) Investimentos, Jankiel Santos, não houve surpresa esta revisão dos dados do Ipea. Ele revisou as projeções de crescimento do PIB brasileiro deste ano de 3,5% para 3%. "O estudo do Instituto está em linha com o que todos os analistas ; nós inclusive ; têm feito em virtude da provável frustração com o desempenho da economia brasileira neste primeiro trimestre", comentou.

"Embora a perspectiva seja de que tenhamos testemunhado um avanço do PIB nos primeiros meses do ano, aparentemente este ficará aquém das expectativas iniciais", destacou Santos, do BES, lembrando que a materialização dos efeitos de estímulos adotados até o momento ainda se mantém no radar de todos. "Portanto há expectativa de aceleração deste ritmo nos trimestres restantes. Em suma, a revisão parece estar centrada apenas na menor contribuição que o primeiro trimestre terá", emendou Santos em referência à decepção do mercado com o pibinho de 2,2% registrado entre janeiro e março deste ano, quando o mercado esperava alta de 2,7%. Em relação à projeção de inflação, o economista-chefe do BES avaliou que, aparentemente, o Ipea está considerando que os efeitos desta revisão baixista de crescimento mais do que compensarão as pressões que potencialmente seriam geradas com um câmbio mais desvalorizado.

O estudo do Ipea indicou ainda que a expectativa de investimentos caiu. Entre janeiro e fevereiro, a projeção de crescimento feita pelas entidades entrevistadas era de 8,2% e recuou para 5,7% entre março e abril. As estimativas de criação de emprego também recuaram no mesmo período, passando de 1,9 milhão de vagas para 1,8 milhão.

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