Agência France-Presse
postado em 12/06/2012 14:33
Madri - Os investidores fugiam nesta terça-feira (12/6) das dívidas de Espanha e Itália, focando seus temores sobre a crise nesses dois países após as dúvidas despertadas pelo resgate dos bancos espanhóis e pelo medo de um eventual abandono da Grécia do euro.Quatro dias depois de os países da Eurozona concordarem em conceder à Espanha uma linha de crédito de até 100 bilhões de euros (125 bilhões de dólares) para recapitalizar os bancos, o aumento das taxas de risco mostra que a tensão persiste.[SAIBAMAIS]
Duas dúvidas principais preocupam os investidores: a situação da Espanha mesmo após o resgate e as eleições gregas do próximo domingo, que no pior dos casos podem levar Atenas a sair do euro e retornar ao dracma. "É impossível prever o que acontecerá", diz Edward Hugh, economista independente baseado em Barcelona. "Há este coquetel formado pelas eleições gregas no próximo final de semana e as declarações sobre o controle de capitais na Grécia e teremos a Itália de volta à mira dos mercados e as incertezas sobre a Espanha", completa.
Com isso, o rendimento pago pelos bônus espanhóis a dez anos chegou na manhã desta terça-feira a 6,826%, um nível recorde e insustentável no longo prazo. Também a taxa de risco do país chegou aos 528,370 pontos. "A situação da Espanha é pior que na semana passada", disse um operador, para quem o plano de ajuda anunciado no sábado não tem dissipado os temores sobre a situação do país.
Os mercados também castigam a Itália, que luta para incentivar o crescimento ao mesmo tempo que lida com uma dívida de 1,9 trilhão de euros. Os juros pagos pelos bônus italianos com vencimento a dez anos também superaram os 6% nesta sessão, chegando a 6,19%, contra 6,03% na véspera, refletindo as dúvidas dos investidores sobre a aplicação do plano de ajuda europeu para os bancos espanhóis.
Nesse cenário e após o leve recuo de ontem, a Bolsa de Madri fechou praticamente estável, em alta de 0,09% nesta sessão. Também as principais bolsas europeias terminaram o dia com altas modestas, de menos de 1%, à exceção de Milão, que perdeu 0,70%.
Longe de contribuir para a calma dos mercados, o resgate da Espanha tem despertado novas dúvidas com relação ao impacto do socorro em sua dívida. A Espanha espera que o empréstimo se concretize na próxima reunião dos ministros de Finanças do Eurogrupo, de 21 de junho, quando se saberá a quantidade que necessita.
Um relatório dos analistas do Barclays Capital aponta que um crédito de 70 a 80 bilhões de euros elevaria a dívida pública espanhola entre 7,0 e 7,5 ponto percentual. Ao final de 2011 a dívida era de 68,5% do PIB. Neste cenário, a dívida pública espanhola pode chegar a 95% em 2015, projetam.
O Tesouro espanhol tentou dissipar na segunda-feira (11/6) a preocupação sobre o impacto do resgate na dívida dizendo que "reforçará sua solvência" geral.
Outra preocupação dos investidores é se o resgate da Eurozona para Espanha virá do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) ou do Fundo europeu de Estabilidade Financeira (FEEF). "Caso a quantidade emprestada do MEE exceda os atuais 100 bilhões de euros, o status de credor preferencial da Espanha limitará seu acesso ao mercado da dívida, o que aumentaria a possibilidade de um calote parcial", disse a agência de classificação financeira Standard and Poor;s.
Ao anunciar no sábado (9/6) a ajuda aos bancos espanhóis, na forma de um crédito de até 100 bilhões de euros, o Eurogrupo se declarou "confiante de que a Espanha cumpriria seus compromissos de redução do déficit e de reformas estruturais para corrigir os desequilíbrios macroeconômicos".
Em plena recessão e golpeado por um desemprego recorde de 24,44%, o país se esforça por reduzir em 2012 seu déficit público a 5,3% do PIB, após apresentar um forte desvio no ano anterior, que levou o déficit para 8,9%, empurrado pela má gestão das regiões autônomas.
O Tesouro espanhol afirmou, por sua vez, que continuará com seu programa de financiamento, tendo coberto após a última emissão da dívida, na última quinta-feira (7/6), 56,8% de sua meta para este ano, de 86 bilhões de euros.