Agência France-Presse
postado em 14/07/2012 11:57
O presidente francês, François Hollande, afirmou neste sábado que o Estado não aceitará em sua forma atual o plano de supressão de empregos da fabricante de automóveis PSA Peugeot Citroën, em uma entrevista televisiva na qual falou do conflito sírio e pediu para que sua companheira solucione de forma privada "os assuntos particulares", depois de seu polêmico tweet.
Por ocasião da festa nacional francesa do Dia da Bastilha, o presidente concedeu uma entrevista às redes de televisão TF1 (privado) e France 2 (público) depois de assistir ao tradicional desfile militar na Champs-Elysées.
Um dos pontos mais esperados de sua entrevista era sua reação ao anúncio feito na quinta-feira pela fabricante de automóveis francesa PSA Peugeot Citroën, que diante das perdas sofridas e pelas perspectivas ruins eliminará 8.000 empregos e fechará a fábrica de Aulnay, ao norte de Paris.
O presidente disse que este plano de reestruturação é "inaceitável em sua forma atual", e "deve ser renegociado".
O governo não pode proibir o fechamento das instalações de Aulnay, disse, mas "podemos fazer com que Aulnay continue sendo um sítio industrial". O Estado poderá agir com "o desemprego parcial", "a formação profissional" e "os créditos que pudermos fornecer", explicou.
O presidente mostrou-se especialmente virulento com a direção do grupo, acusada por ele de dizer "mentiras" e de ter adiado o anúncio para depois da eleição presidencial.
"Esse plano já era um rumor há alguns meses, e a direção da Peugeot negou que estivesse refletindo sobre o plano", sustentou.
Diante das novas demissões que ameaçam os próximos meses, o chefe de Estado assegurou que o emprego e "a recuperação industrial" são, para ele, prioritários, assim como a redução do déficit e da dívida.
"Sim, a primeira prioridade é o emprego. Tudo deve ser feito para que o emprego esteja no mais alto índice no fim de meu mandato", declarou.
Apesar do congelamento dos gastos e das supressões de empregos em certos ministérios não prioritários, Hollande rejeitou novamente o termo "rigor", e preferiu falar de "esforço justo". As categorias mais favorecidas serão as que farão um maior esforço, e não "as classes médias", prometeu.
Para reduzir o déficit, Hollande disse que não descarta "nenhum recurso". "É preciso encontrar 33 bilhões de euros para 2013, os encontraremos", disse.
O presidente socialista reiterou sua oposição a introduzir na Constituição o princípio do retorno ao equilíbrio orçamentário, conhecido como a "regra de ouro". Em seu lugar, a norma, acordada por 25 dos 27 Estados da União Europeia para combater a crise da dívida, constará em uma "lei orgânica".
Hollande também falou do conflito na Síria, dizendo que "ainda há tempo" de encontrar uma situação política e evitar uma guerra civil, e pedindo à Rússia que deixe de bloquear a adoção de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU.
Quando ao Mali, onde os grupos islamitas armados controlam o norte do país após o golpe de Estado de 22 de março, Hollande disse que são os países africanos que devem determinar o momento e a magnitude de uma possível intervenção militar.
O presidente anunciou, por sua vez, a criação de uma "comissão de moralização da vida política", que será presidida pelo ex-primeiro-ministro socialista (1997-2002) e seu mentor Lionel Jospin. "Esta comissão nos fará propostas para a não acumulação de cargos (...), o financiamento das campanhas, os modos de eleição", detalhou o dirigente.
Hollande também foi interrogado sobre sua companheira, a jornalista Valérie Trierweiler, que desencadeou uma forte polêmica entre os dois turnos das eleições legislativas de junho, ao apoiar em sua conta no Twitter o candidato rival de Ségolène Royal, ex-companheira de Hollande e mãe de seus quatro filhos.
Na entrevista deste sábado, Hollande declarou: "os assuntos privados são solucionados em particular. E disse isso às pessoas próximas, para que aceitem escrupulosamente este princípio".
Interrogado sobre a possibilidade de que ocorra um incidente similar, o chefe de Estado respondeu com um "não" categórico.
"Penso que os franceses são como eu, querem que as coisas estejam claras, que não exista nenhuma interferência" entre a vida privada e a vida pública, explicou.
Por último, o presidente francês convocou os jogadores de futebol da seleção francesa a "ter respeito" pela camisa da França e a tomar como exemplo a Espanha, que soube jogar coletivamente durante a Eurocopa.