Pedro Henrique Lobato
postado em 21/07/2012 16:42
Quem não dispensa o tradicional happy hour precisa ficar atento, pois o preço da gelada vai subir de 2,85% a 4%, em outubro, quando o governo federal mudará as alíquotas de impostos para a cerveja, refrigerantes, água e isotônicos. Até lá, porém, a recém-criada Associação Nacional da Indústria da Cerveja (CervBrasil), que reúne as quatro maiores fabricantes do país ; Ambev, Schincariol, Heineken e Petrópolis ;, tentará convencer o Palácio do Planalto a rever o aumento.O surgimento da CervBrasil é um marco no mercado nacional, pois, até há apoucos meses, era quase utopia acreditar que as grandes produtoras pudessem se unir. A ;aliança; foi forçada em razão de a fragmentação dessa indústria ter sido, na avaliação dos próprios executivos da CervBrasil, uma das causas de a União sempre majorar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da cerveja toda vez que o governo precisou reduzir o mesmo tributo para segmentos com vendas baixas, como automóveis e a chamada linha branca.
;Quando há uma necessidade de se desonerar algum setor, é uma decisão imediata (do governo) de se imputar a diferença no que (a União) considera não-essencial. O grande problema identificado é que a culpa é nossa, pois, ao longo dos últimos 100 anos, nunca tivemos um discurso unificado. Estávamos preocupados em nos combater, uns aos outros, na guerra da cerveja;, diz Paulo Macedo, diretor da CervBrasil. Há cerca de dois meses, a entidade mandou um recado ao governo: o investimento de R$ 7,9 bilhões, anunciado no início do ano, em expansão de fábricas está sendo revisto.
A CervBrasil não revelou os estados que podem receber o aporte, mas reuniu dados para mostrar à equipe econômica da presidente Dilma que a indústria cervejeira é importante para o desenvolvimento do país. ;Desembolsamos, apenas em salários, cerca de R$ 17 bilhões a cada 12 meses;, acrescentou Macedo.
Na prática, a CervBrasil deseja conseguir o mesmo status da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Desde 2009, o governo reduziu o IPI de carros zero quilômetro em duas oportunidades. A renúncia fiscal foi paga por setores como o de cerveja. No fim de maio, o governo publicou o decreto 7.742, atualizando as alíquotas das chamadas bebidas frias (água, refrigerante, cerveja, isotônico e energético). Segundo o subsecretário de Tributação da Secretaria da Receita Federal, Sandro Serpa, os preços desses produtos ao consumidor final podem subir, em média, 2,85% a partir de outubro.
Para a CervBrasil, porém, o aumento da bebida alcóolica ficará entre 3% e 4%. Se a União não atender a reivindicação das cervejeiras, o Fisco deve arrecadar, em 2012, R$ 408 milhões a mais com as novas alíquotas do setor. Em 12 meses, o valor será de cerca de R$ 2,44 bilhões por ano. Procuradopara comentar a decisão de a CervBrasil rever o investimento de R$ 7,9 bilhões, o Ministério da Fazenda informou que não vai comentar o assunto.
O aumento dos impostos federais vai pesar mais, segundo Cristiano Lamego, superintende executivo do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (SindBebidas), nos custos das microcervejarias. Há 11 delas no estado, responsáveis por uma produção mensal em torno de 900 mil litros. ;A carga tributária é de aproximadamente 48% (do preço da bebida);, afirma Lamego.