Agência France-Presse
postado em 26/07/2012 15:16
Madri - A incessante crise econômica que assola a zona do euro e que atinge em particular a Espanha, desde o estouro da bolha imobiliária no país, em 2008, tem feito com que grandes empresas espanholas tomem medidas drásticas para sobreviver em meio ao caos financeiro.Entre os casos recentes mais chamativos, a Telefónica cancelou os dividendos pagos pela companhia, a grife Mango baixou fortemente seus preços e o Santander sacrificou seu lucro para fazer provisões de capital. Segundo especialistas, as decisões adotadas por grandes empresas espanholas refletem o desespero ante uma crise que parece agravar-se ainda mais.
O primeiro anúncio saiu na quarta-feira à tarde, surpreendendo o mercado. A gigante das telecomunicações, Telefónica, cancelou até 2013 o pagamento de dividendos a seus acionistas e reduziu em 30% o saldo de seus diretores.
"Em um entorno atual de altos riscos foi necessário tomar medidas para proteger o grupo", justificou.
A Bolsa de Madri não recebeu bem o anúncio e suas ações recuaram 8%. "A Telefónica se converteu na primeira grande companhia espanhola a suspender os dividendos e a realizar um drástico corte aos soldos dos diretores dos conselhos, em uma demonstração de liderança que marca o caminho a outras empresas espanholas, também afetadas por um entorno econômico e financeiro adverso", considerou.
"Estas medidas permitirão à empresa economizar no máximo aproximadamente 10,200 bilhões de euros nos próximos dois anos", disseram os analistas do Bankinter.
Para a corretora Renta4, a decisão foi acertada devido às condições atuais de mercado. Em um país em recessão e sob a ameaça de um resgate global, com um em cada quatro trabalhadores sem emprego e o consumo a patamares mínimos, as empresas têm que reagir. "Há algumas empresas, como Santander ou BBVA, que estão sendo castigadas pelo risco-país, pelo simples fato de serem espanholas, o que seguramente não é justo", diz Daniel Pingarrón, analista da IG Markets.
Sob a pressão das autoridades, os bancos têm efetuado grandes provisões, sacrificando os lucros anteriores. O líder do setor bancário, o Santander, apresentou lucro trimestral em queda de 93%, de 100 milhões de euros, após 3 bilhões em provisões para cobrir "o risco imobiliário na Espanha".
O gigante energético Iberdrola, por sua vez, comemorava na quarta-feira que a "atividade internacional será o motor dos resultados do grupo". A divisão da empresa fora da Espanha aporta já mais de três quartos de seu lucro.
Várias empresas de energias renováveis, castigadas pela privação das ajudas públicas, buscam ganhos no estrangeiro e o setor da construção tem realizado a mesma aposta.
Esta política "é absolutamente acertada", diz Pingarrón. Para "as construtoras especialmente, porque desde o estouro da bolha imobiliária elas não têm tido grandes oportunidades", afirma.
Em geral, "todas as companhias estão tentando se internacionalizar e principalmente estão tentando se conectar com mercados emergentes, na América do Sul em particular", diz o analista.
As que não podem fazê-lo, pagam caro. A divisão imobiliária do grupo construtor Aciona, de grande presença na Espanha, viu seu lucro semestral perder 50,3%.
[SAIBAMAIS]Algumas empresas elegeram uma estratégia mais pragmática: a grife Mango reduziu em março seus preços em 20% para "adaptar-se à nova situação econômica". Exemplo que seguiram em junho os grandes lojas El Corte Inglés, que caiu 20%, os preços de 5.000 de seus produtos.