Economia

Operário relata tortura para assumir participação em incêndio em Jirau

postado em 21/08/2012 18:44
Brasília - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas ouviu hoje (21/8) o operário Raimundo Braga de Souza, que trabalhou na Usina Hidrelétrica Jirau, em Rondônia. Ele denunciou ter sido preso por 54 dias e espancado ;diversas vezes; por policiais militares do estado e da Força Nacional para admitir participação no incêndio em 37 alojamentos da obra ocorrido em abril e também delatar responsáveis.

Sem provas de sua participação no crime, Raimundo foi absolvido pela Justiça. ;Eles [os policiais] queriam que eu confessasse algo que não fiz e que apontasse quem teria feito aquilo;, disse referindo-se ao incêndio. Durante a audiência na Câmara, diversos deputados manifestaram apoio ao operário, que até hoje não conseguiu reaver seus documentos, provavelmente queimados no incêndio.

A CPI, instalada na Câmara dos Deputados, também deverá solicitar que a Polícia Federal abra um inquérito para investigar o desaparecimento de 13 operários da obra, do mesmo modo considerados à época suspeitos de envolvimento com o incêndio. Raimundo diz que o motivo do desaparecimento deles foi ;o medo de serem repreendidos;.

Segundo o secretário de Segurança, Defesa e Cidadania de Rondônia, Marcelo Nascimento Bessa, Raimundo foi preso por ter sido encontrado no local com um isqueiro e por ter sido apontado por testemunhas de estar entre as pessoas que incendiaram o canteiro de obras. ;Ele estava com um isqueiro porque, como todos sabem, é fumante há muitos anos;, retrucou o advogado do operário, Ermógenes Jacinto de Souza.

O fato de ter sido acusado de participação no ato de vandalismo fez com que a empresa pedisse a Raimundo que assinasse uma carta de demissão por justa causa, o que foi recusado. ;Não fiz nada de errado e agora quero o meu direito de receber o que eles me devem e de ser indenizado pelos 54 dias em que fiquei preso por uma falsa acusação;, argumentou Raimundo.

;Esse cidadão pode até ser ator e estar mentindo. Se for, me convenceu. Para mim, ele é, sim, um cidadão honrado. O Estado, inclusive, já reconheceu sua inocência e [além disso, por causa do ocorrido,] está até hoje sem seus documentos;, avaliou o presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).

Na avaliação dos deputados que se manifestaram durante a audiência, as suspeitas de que o operário teria sido vitima de tráfico humano para servir de mão de obra na construção da usina ; um dos motivos pelos quais Raimundo foi convocado ; no entanto, não procede.

;Como o próprio Raimundo disse, ele pagou R$ 500 a algum esperto ; um sujeito que, ao que parece, se chama Antônio Milagro ; apenas para ser levado, junto a outras pessoas, até a obra. Acredito que está claro que ele não foi capturado pela empreiteira;, disse o presidente da CPI. A comissão, segundo ele, vai ouvir Antônio Milagro.

O diretor de Energia da construtora Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins, disse que o esgotamento da mão de obra em Rondônia levou a empreiteira a buscar mão de obra em outros estados. ;Mas sempre por meio do Sine [Sistema Nacional de Emprego];, garantiu.

;Isso foi noticiado em jornais de diversos estados. Nós inclusive pagamos a viagem a Porto Velho e a hospedagem. O problema é que, em obras dessa dimensão, sempre aparecem golpistas;, acrescentou. A Camargo Corrêa é a empreiteira contratada para a construção da Usina Jirau.

Raimundo disse ter saído satisfeito com o depoimento. ;Eu falava e não era ouvido. Acho que esse é o lugar certo para dizer o que aconteceu, porque todos poderão ouvir. Espero que me ajude também a conseguir meus direitos, porque minha demissão não poderia ser por justa causa e porque fiquei 54 dias preso sem nenhum tipo de prova;, disse o operário.

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