Economia

Com consumo dos ricos em queda, empresa busca crescer no Complexo do Alemão

postado em 23/08/2012 12:38
; Deco Bancillon - Enviado especial

Rio de Janeiro ; Líder global em sistemas de pagamentos eletrônicos, a Visa pôs o pé na favela. Diante do esgotamento do consumo entre as classes sociais mais ricas, que costumam se retrair com mais força em momentos de crises econômicas, a empresa de cartões decidiu apostar suas fichas no cliente de baixa renda, mais precisamente os cerca de 180 mil moradores do conjunto de favelas denominado Complexo do Alemão, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e parceiros locais, como o Bradesco, a empresa lançou ontem um projeto de inclusão bancária, a primeira iniciativa desse tipo em terras brasileiras. O valor investido é estimado em US$ 1,5 milhão, segundo cálculos da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer do Rio. O programa procura transformar moradores da comunidade em consultores financeiros. Eles receberão treinamento sobre como abrir contas bancárias, formalizar empresas e gerirem negócios na favela. Depois, transmitirão esses conhecimentos a outros residentes do Alemão.

A Visa está particularmente interessada em oferecer produtos financeiros que se encaixem no orçamento dos moradores da favela, e com isso ganhar mercado com consumidores esquecidos pela burocracia de empresas e do Estado. Pessoas como dona de casa Vera Lúcia Gonçalves, uma pernambucana de 59 anos que, há 30, decidiu trocar o bairro de Água fria, no Recife, pelo Morro da Alvorada, no Complexo do Alemão.

Casada com um carpinteiro desempregado e mãe de três filhos, ela tenta conciliar as tarefas domésticas com bicos de diarista, além de ajudar a neta, uma manicura que trabalha em casa, a cuidar da bisneta, de 7 anos. Mesmo diante das dificuldades, a família consegue juntar cerca de R$ 4 mil mensais, contando com a renda do marido da neta, que é segurança particular em festas e shows. Ainda assim, nenhum deles têm acesso a serviços bancários. Vera Lúcia conta que, há 20 anos, encerrou a única conta que teve em um banco. Daí para frente, nunca mais nem conseguiu ser ouvida pelo gerente. ;Tinha conta no Bradesco, mas tive que fechar, porque não tinha mais como pagar a fatura;, diz, fazendo uma pergunta ao repórter: ;Ainda existe o Bradesco?;.



Para atender a esses consumidores, que não têm informação nem comprovantes formais de renda e residência, a Visa irá realizar pesquisas mercadológicas que traçarão perfis de consumo na favela. Uma das possibilidades, contou ontem o diretor-geral da empresa no Brasil, Rúben Osta, seria oferecer produtos financeiros nos moldes dos serviços de telefonia pré-paga, em que a pessoa não precisa apresentar conta em banco, comprovante de residência ou qualquer outro documento oficial que comprove o recebimento de renda formal. ;Hoje, 82% dos celulares no Brasil são pré-pagos. Então eu imagino por que não podemos fazer o mesmo com o mercado de cartões?;, perguntou, retoricamente, o executivo.

*O jornalista viajou a convite da Visa

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