Agência France-Presse
postado em 10/09/2012 16:00
Paris - A revisão para baixo da previsão de crescimento francês anunciada no domingo pelo presidente François Hollande impõe ao país esforços suplementares para reduzir seu déficit, o que deve frear sua atividade econômica e aumentar o desemprego, dizem economistas.O projeto orçamentário para 2013 será apresentado no final do mês e o chefe de Estado indicou em uma entrevista ao canal TF1 que ele será elaborado a partir de uma previsão de crescimento "realista", de 0,8%" e não de 1,2% conforme previsto até agora.
Uma atividade econômica reduzida acarretará mecanicamente em uma queda da renda das famílias e das empresas e portanto da arrecadação fiscal e por isso os franceses deverão pagar mais se a França mantiver seu compromisso de reduzir drasticamente o déficit.
François Hollande anunciou 20 bilhões de euros em novos aumentos de impostos no próximo ano, a metade da soma em mãos de particulares e a outra, das empresas, em um esforço histórico para reduzir o déficit público a 3% do Produto Interno Bruto (PIB), em comparação aos 4,5% deste ano.
"Temos a impressão de que os governos europeus e o governo francês em particular têm a tendência a fazer previsões de crescimento e observar o quanto falta para chegar às metas de déficit orçamentário", estima Jean-Christophe Caffet, economista da Natixis.
"Contudo, todos esses bilhões postos sobre a mesa têm repercussões sobre a atividade que, por sua vez, geram déficits", diz o economista.
Além dos 20 bilhões de euros em novos impostos, o presidente francês confirmou 10 bilhões em cortes nos gastos do Estado. A isso se somam 6 bilhões em novos ingressos no próximo ano, procedentes dos aumentos de impostos aprovados durante o verão no orçamento ratificado para 2012.
O presidente se deu um prazo de "dois anos para aplicar uma política de emprego, de competitividade e de recuperação das contas públicas".
"Custo exorbitante"
"É absolutamente necessário o objetivo de 3% do PIB? Minha resposta é não: o degrau para 2013 é tão alto que não pode ser atingido sem efeitos muito negativos para a atividade e para o emprego", disse Caffet.
Para Eric Heyer, do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), esse é o ponto onde a situação se torna um tanto quanto angustiante. Para ele, o crescimento não será de 0,8% em 2013, mas sim de 0,3% e o déficit alcançará 3,5% a 3,6% do PIB.
"Para se chegar verdadeiramente a 3% a todo custo, fará falta um novo plano de austeridade entre 8 e 9 bilhões suplementares", afirma. E esses bilhões vão frear o crescimento". "Trata-se de um jogo sem fim, ou cujo fim será uma recessão bastante forte na França e na Europa", considera.
Segundo Caffet, o custo é exorbitante em termos de crescimento e em destruição de empregos, o que gerará aumento da pobreza. "A França não pode ser o único país que não respeita seus compromissos", diz.
[SAIBAMAIS]Na opinião de Jean-Paul Betb;ze, economista do banco Crédit Agricole, o governo tem reduzido suas próprias margens de liberdade ao prometer a manutenção do número de funcionários públicos e para isso tem que esperar medidas sobre a evolução dos salários.
Contudo, os objetivos anunciados de redução do déficit de Estado das coletividades locais e da Segurança Social, são intangíveis, segundo ele.
"Os estrangeiros que possuem a maior parte da dívida da França poderiam vender seus títulos no caso de o país renunciar a suas promessas de disciplina fiscal", considera.