Madri - Sob o lema "Querem arruinar o país, temos que impedi-los", dezenas de milhares de manifestantes procedentes de toda a Espanha se reunirão no sábado (15/9) em Madri para um grande protesto convocado pelos sindicatos contra as políticas de rigor do governo de Mariano Rajoy e os possíveis novos cortes que poderiam acompanhar um resgate global do país.
Convocados por um grupo que reúne 900 associações, seis marés de cores distintas partirão pela manhã de diferentes pontos da cidade para inundar as ruas do centro.
Com suas já tradicionais camisetas verdes, professores, padres e alunos protestarão contra a redução do número de docentes e o aumento das taxas na educação pública.
Médicos e enfermeiros desfilarão de branco contra o fechamento de serviços de saúde e os trabalhadores sociais, de laranja, contra a redução de ajudas às pessoas dependentes.
A associação de mulheres, de violeta, carregará cartazes contra o projeto de uma nova lei de aborto mais restritiva e os trabalhadores da cultura denunciarão um aumento dos impostos, que levará, afirmam, ao fechamento da quinta parte das empresas do setor.
Com seus salários cortados duas vezes e seus postos congelados, os funcionários se vestirão de negro.
Ao pé da imensa bandeira espanhola da Plaza Colón, sairão ao meio-dia quatro marchas que se unirão a outras dezenas de milhares de pessoas chegadas de todas as regiões do país.
Todos eles gritarão contra os ajustes de 102 bilhões de euros que o governo aplicará durante dois anos e meio em um esforço sem precedentes por reduzir o déficit público de 8,9% do PIB em 2011 a 2,8% em 2014.
Para os organizadores do protesto, as medidas de austeridade estão injustamente concentradas nas classes populares e só agravarão a recessão na qual está imersa o país.
[SAIBAMAIS]"A pressão sobre os cidadãos está cada vez mais insuportável, pois a renda está cada vez mais reduzida pela reforma trabalhista e pela supressão do pagamento extra", denuncia a Plataforma Social em Defesa do Estado de Bem-estar, formada pelos grandes sindicatos UGT e CCOO.
Ao mesmo tempo, os gastos são elevados: alta de impostos diretos e indiretos, "gastos correntes (luz, água, gás), aumento dos medicamentos e prestações sanitárias e de dependência; educação cada vez mais cara", asfixiam a uma população com 24,63% de desemprego, afirmam.
"Há uma rejeição contundente à política de ajuste, pois com ela tudo deve piorar", afirmou nesta sexta-feira Cándido Médez, secretário-geral da UGT, que como outros organizadores do protesto querem que os cortes sejam submetidos a referendo.
"Há dentro do grupo um consenso de que é preciso uma consulta popular e que o povo espanhol opine de maneira clara sobre se está de acordo ou não" com as políticas de rigor do governo de Rajoy, afirmou.
"Não é inevitável que nos governem os mercados, que se produza um resgate da economia espanhola, entendido o resgate em seus efeitos como o que aconteceu na Grécia, em Portugal e Irlanda, onde a única coisa que acontece é o agravamento da situação", disse o secretário-geral da CCOO, Ignacio Fernández Toxo.
Após obter em junho uma ajuda da Zona Euro de até 100 bilhões de euros para sanear um setor bancário em ruínas desde o estouro da bolha imobiliária espanhola em 2008, o governo de Rajoy se vê agora pressionado para que solicite um resgate para o conjunto da economia do país.
Ante o crescente descontentamento social provocado por suas draconianas medidas de austeridade, o chefe do executivo não cansa de repetir que ainda não tomou uma decisão sobre a necessidade de tal ajuda e tenta convencer que, caso venha a pedi-la, ela não gerará novos cortes.
Rajoy já enfatizou que não tocará nas aposentadorias, o único segmento que não sofreu cortes até agora no país.