Economia

Ministro Guido Mantega prevê mais três anos de crise na Europa

Agência France-Presse
postado em 19/09/2012 11:55
Paris - O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, afirmou nesta quarta-feira (19/9) em Paris que a Europa deve permanecer por mais dois ou três anos em crise, o que o levou a aconselhar os países emergentes a aumentarem o comércio entre si e a estimularem o consumo interno para minimizar as consequências. "A crise europeia não tem solução a curto prazo", disse o ministro, que se reuniu em Paris com o colega francês Pierre Moscovici e empresários interessados em investir no Brasil.

Mantega, que viajará na quinta-feira (20/9) para Londres, afirmou que "as medidas adotadas não conseguem sair do papel" devido aos interesses dos principais países da Eurozona, o que faz com que "tudo seja adiado para a eternidade". Segundo ele, a França tem interesse no funcionamento das medidas adotadas pelos europeus, em particular a do Banco Central Europeu de comprar dívida dos países em dificuldades. Mas "há outros, e não vou citar nomes, que têm problemas políticos e continuam adiando sua aplicação", acrescentou.

"E não existirá uma solução para a crise europeia enquanto não forem resolvidos os problemas urgentes de curto prazo. Enquanto existir risco de quebra de países e de bancos, as economias vão seguir com problemas", previu em uma entrevista coletiva. Isso significa que os países emergentes têm que se organizar para enfrentar a situação, pois não podem contar com a recuperação do mercado europeu, que vai permanecer estagnado nos próximos anos, completou.

Aqueles que têm um modelo baseado nas exportações, como a China, que dependem mais do mercado externo do que do interno, terão que substituir o mercado europeu pelo dos países emergentes e estimular o consumo interno, aconselhou Mantega. Para o ministro, a falta de criação de empregos é um dos principais problemas nos Estados Unidos e União Europeia, ao contrário do Brasil, que tem "fundamentos sólidos", apesar de ter admitido que a qualificação da mão de obra, como ressaltaram os empresários com os quais se reuniu em Paris, é um obstáculo para o desenvolvimento do país.

[SAIBAMAIS]Entre os fundamentos, ele citou o déficit inferior a 2%, o que dá liberdade para medidas de redução de custos e exonerações e estímulos diretos, como os programas de infraestrutura ou investimentos importantes, e um mercado consumidor que não para de crescer, o que repercute na criação de empregos. Mantega espera que nos próximos anos saiam da pobreza entre 30 e 40 milhões de brasileiros, o que contribuirá para que o país torne-se o quinto maior mercado consumidor do mundo.

Na terça-feira (18/9), após um encontro com Moscovici, Mantega criticou duramente a política monetária americana, que, segundo ele, "pode provocar muitos problemas aos países emergentes", em particular o Brasil. Nesta quarta, o ministro tentou suavizar suas declarações e destacou que "não adianta nada" que os Estados Unidos tenham apenas um estímulo monetário, se o país não adota outras medidas fiscais, já que a desvalorização do dólar acaba "prejudicando os países emergentes".



Os estímulos monetários, ao invés da produção, acabam seguindo para a atividade financeira, em particular Wall Street, e nos países emergentes, o que contribui para a valorização das moedas locais. O vencedor da eleição presidencial americana de novembro "terá que fazer política fiscal para que a economia volte a crescer", disse Mantega, para quem "sanear" o setor imobiliário é o primeiro passo, assim como "estimular o consumo". Segundo ele, a única estratégia até o momento da maior economia mundial é a política monetária, e esta "vai perdendo eficácia" em sua opinião.

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