Agência France-Presse
postado em 20/09/2012 13:14
Nova Délhi - A Índia começou nesta quinta-feira (20/9) mergulhada numa greve de pequenos comerciantes que se opõem à entrada no país dos gigantes mundiais da distribuição, um movimento que evidencia a grande dificuldade do governo de impor reformas consideradas "contra os pobres".Os motoristas de ônibus e caminhões também participam na greve, apoiada por sindicatos e partidos de oposição, para protestar contra uma alta de 12% do preço subvencionado dos combustíveis. Depois de desistir, em dezembro de 2011 ante a oposição política e de pequenos comerciantes, o primeiro-ministro Manmohan Singh voltou a introduzir esta reforma na semana passada, dentro de uma série de medidas destinadas a estimular uma economia que perde o fôlego rapidamente.
Mas voltou a provocar uma onda de protestos pelo perigo que o pequeno comércio corre e, mais amplamente, os milhões de pobres deste país emergente. Um partido-chave retirou seu apoio à coalizão governamental, alegando que esta reforma ignora os interesses dos mais desfavorecidos, debilitando um governo de centro-esquerda que fez sua campanha em 2004 calcada no tema da luta contra a pobreza. Inúmeras lojas se encontram fechadas, assim como escolas, oficinas e fábricas, em particular em Calcutá (leste), Bangalore (sul) e Chennai (sul, antiga Madras), enquanto que o tráfego ferroviário estava perturbado em vários Estados.
[SAIBAMAIS]Em várias cidades foram realizadas manifestações. Em Bangalore, queimaram retratos do primeiro-ministro. A Confederation of All India Traders (CAIT), organização que agrupa cerca de 10.000 sindicatos, espera alcançar 50 milhões de grevistas. Milhares de policiais estão mobilizados em Calcutá na previsão de eventuais distúrbios nesta cidade. Segundo a polícia, grupos de manifestantes também bloqueiam algumas estradas.
No entanto, na capital econômica da Índia, Mumbai, não há movimento grevista, já que os partidos políticos locais se negaram a apoiar a greve. Segundo os analistas, este movimento ilustra a dificuldade do governo em realizar mudanças num país onde dois terços dos habitantes vivem em zonas rurais desfavorecidas, apesar da emergência de uma sólida classe média. Segundo a reforma do governo, os grupos estrangeiros, como o americano Walmart, o britânico Tesco e o francês Carrefour poderão adquirir 51% do capital dos varejistas multimarcas indianos.
As grandes cadeias estrangeiras já estão presentes no país como atacadistas, mas não podem vender diretamente aos consumidores deste país com 1,2 bilhão de habitantes. Na Índia, há mais de 12 milhões de "kiranas", pequenos comércios tradicionais onde são empilhados no chão todo tipo de alimentos, o que representa o trabalho de 25 milhões de comerciantes. Os partidários da liberalização do comércio varejista defendem a criação de milhões de empregos, a perspectiva de uma queda dos preços dos alimentos e da inflação, que, em agosto, foi de 7,5%.