Bruxelas - A União Europeia (UE) tem colaborado com a Espanha na elaboração do plano de reformas que o governo de Mariano Rajoy prevê anunciar na quinta-feira (27/9) para evitar a exigência de novas medias de austeridade caso o país peça um resgate, disseram fontes europeias nesta sexta-feira (21/9).
"De fato, a Comissão Europeia (CE) está em contato direto com as autoridades espanholas para completar este importante programa de reformas estruturais, mas a responsabilidade final é do governo espanhol", disse o porta-voz comunitário Simon O;Connor.
O ministro da Economia espanhol, Luis de Guindos, anunciou que o governo adotará dia 27 de setembro um "plano nacional de reformas" com um "calendário estrito" para cumprir com as metas de déficit com as quais se comprometeu com Bruxelas (6,3% do PIB em 2012, 4,5% em 2013 e 2,8% em 2014).
De qualquer maneira, o porta-voz negou que este plano seja o início de um resgate mais amplo. "Absolutamente não", disse.
Contudo, uma fonte europeia disse à AFP que a "consequência lógica de tudo isso é que, caso a Espanha peça ajuda à Zona Euro, a Comissão poderá responder dizendo-lhe que está tudo pronto e portanto não serão exigidos esforços adicionais".
Nesse caso seria um resgate "light", tecnicamente chamado de linha de crédito preventiva.
[SAIBAMAIS]Inclusive há países como Alemanha que creem que um resgate global para a Espanha, quarta economia da união monetária, não é necessário de momento, frente a outros como França que pressionam para que haja uma solicitação de auxílio o quanto antes.
"Minha opinião é que a Espanha já está em um bom caminho e necessita de um programa suplementar" de austeridade, declarou o ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schauble. "O que a Espanha precisa é da confiança dos mercados", completou.
E os mercados parecem ter se acalmado depois que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um programa de compra de dívida para apoiar aos países mais frágeis da Zona Euro.
Na quinta-feira (20/9), o país conseguiu vender obrigações a dez anos em uma emissão considerada como o barômetro da confiança dos investidores, a uma taxa média de 5,666%, longe dos 6,647% exigidos dia 2 de agosto.
-- UE e Espanha negociam fórmulas nos bastidores --
Apesar de o governo de Rajoy insistir que não tocará nas apesentadorias, muitos analistas creem que ele não cumprirá com essa promessa. O primeiro motivo para essa descrença é o fato de muitos acreditarem que a Espanha descumprirá com sua meta de déficit público para 2012 devido ao aumento da recessão e a má situação financeira de suas comunidades autônomas.
Desde que Rajoy assumiu o poder em dezembro passado, as medidas de austeridade têm se multiplicado com o objetivo de economizar 102 bilhões de euros até a 2014, em um contexto devastador de recessão e um desemprego que afeta um quarto da população ativa. Por isso, negociar um resgate menos doloroso é crucial e há semanas que as autoridades europeias têm criado fórmulas junto à Espanha.
Uma das hipóteses é que o governo de Rajoy utilize os 100 bilhões de euros que a Zona Euro destinou para auxiliar o setor bancário espanhol, gravemente deprimido após o estouro da bolha imobiliária de 2008, para sanear sua economia.
"É uma opção", disse uma fonte europeia. Em todo caso, será preciso esperar a próxima sexta-feira, quando serão conhecidos os resultados das auditorias dos bancos espanhóis, para que sejam conhecidas suas necessidades de capital.
O procedimento será o mesmo: a Espanha deverá fazer a solicitação a seus sócios da Zona Euro e contar com a aprovação dos parlamentos nacionais, além de firmar um novo acordo ou memorando de entendimento. Contudo, antes disso, a Espanha deve decidir se finalmente pede um resgate, disse a fonte europeia. E caso tome essa decisão, tudo tem que estar pronto para evitar o caos.
Segundo a Capital Economics, a taxa de risco (o diferencial entre a taxa paga pelo bônus espanhol a dez anos e a paga pelo alemão) dispararia aos mesmos níveis de antes do verão.