Economia

Fusão entre EADS e BAE Systems fracassa por falta de acordo entre governos

Agência France-Presse
postado em 10/10/2012 16:20

Paris - Os grupos EADS e BAE Systems anunciaram nesta quarta-feira (10/10) o fracasso de seu projeto de fusão, que teria criado um gigante europeu de aeronáutica e de defesa, alegando uma falta de acordo com vários governos acionistas.

"BAE Systems e EADS anunciam que decidiram encerrar as negociações", disseram em um comunicado conjunto enviado à Bolsa de Londres, poucas horas antes do fim do prazo para um acordo, às 16H00 GMT (13H00 de Brasília).

As duas empresas explicaram que, durante as negociações, "ficou claro que os interesses das partes governamentais não se aproximaram o suficiente ou com os objetivos que BAE Systems e EADS haviam definido para a fusão".

O CEO da BAE Systems, Ian King, declarou estar "decepcionado" por não ter conseguido alcançar "um acordo aceitável com nossos diferentes governos acionistas", que são França, Alemanha e Reino Unido.

Pouco antes do anúncio oficial, uma fonte ligada ao caso atribuiu o fracasso ao governo alemão, ao afirmar que "não funcionou porque os alemães bloquearam".

Segundo outra fonte, que também teve acesso às negociações, os dirigentes dos dois grupos "se convenceram de que a Alemanha nunca diria ;sim; e que ninguém conseguiria fazê-los mudar de opinião".

Horas depois deste comunicado, o presidente da EADS, Tom Enders, enviou uma carta aos funcionários do grupo na qual reconhecia que não era esperada a oposição de Berlim nesta fusão.

"Tenho que admitir que nunca imaginamos ter que enfrentar tal oposição contra o acordo, em particular de Berlim", disse Enders acrescentando que o grupo deverá repensar sua estratégia em particular "em suas atividades de defesa".

Pouco antes, o ministro de Defensa alemão, Thomas de Maizi;re, afirmou em Bruxelas que seu país não se considera responsável.

"É uma opinião que ouvi e com a qual não compartilho", disse o ministro, que afirmou não estar "surpreso" com o resultado e afirmou que se trata de uma "decisão empresarial".

Em Paris, o presidente François Hollande afirmou que o fracasso da fusão foi a consequência da "decisão das empresas" e reafirmou a confiança no futuro da EADS.

Na bolsa de Londres, as ações da BAE Systems fecharam em leve alta de 0,18%, a 320,9 centavos, depois de ter perdido cerca de 2,5% de seu valor durante a sessão desta quarta-feira. Em Paris, a ação da EADS subiu 5,29%, depois de cair 12% desde que o projeto de fusão foi anunciado.

"Oportunidade perdida"

Os dois grupos tentaram durante as negociações reduzir a influência da Alemanha e da França dentro da EADS, com o objetivo de ter acesso ao mercado de defesa dos Estados Unidos, o mais importante do mundo, um país reticente às empresas públicas.

Londres também tentou, em vão, convencer os outros dois governos para que reduzissem sua participação no futuro grupo e conservar assim as boas relações com o Pentágono.

[SAIBAMAIS] Mas Paris e Berlim não se contentavam com ter direito a bloquear qualquer entrada de capital considerada hostil no novo grupo: a França queria seguir no capital, o que provocou o mesmo pedido da Alemanha

Segundo este esquema, a França teria 9% da nova estrutura e poderia ter comprado mais capital no futuro.

Ian King lamentou o fracasso de uma "fusão que apresentava uma oportunidade única para BAE Systems e EADS de combinar dois negócios de classe mundial e complementares para criar um grupo líder mundial nos setores aeroespacial, de defesa e de segurança".

O gigante resultante da fusão teria um faturamento de 78 bilhões de euros, muito à frente das concorrentes Boeing e Lockheed Martin, as líderes americanas do setor.

O grupo EADS, fundado no ano 2000, é um líder europeu nos setores da indústria aeronáutica, do espaço e da defesa, enquanto a BAE Systems tem importantes contratos com o departamento de Defesa dos Estados Unidos, que questionava a presença de capital público no novo grupo após a fusão.

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