Economia

Dívida espanhola aumentará por causa da recapitalização dos bancos

Agência France-Presse
postado em 23/10/2012 18:34
Madri - A Espanha parece ter aceitado que não haverá recapitalização direta da Europa a seus bancos, pelo menos, por enquanto, preferindo assumir um aumento de sua dívida pública a deixar o controle do setor nas mãos de seus sócios europeus, dizem os especialistas.

Madri obteve em junho uma linha de crédito de até 100 bilhões de euros para sanear seus bancos, alguns dos quais sofreram intervenção para escapar da quebra, como o Bankia.



Contudo, desde então não recebeu um só euro, apesar de a primeira transferência estar prevista para este verão. Nos bastidores, as negociações continuam, afirma uma fonte diplomática europeia.

A União Europeia, preocupada em limitar a fatura do contribuinte europeu, tenta fazer os bancos espanhóis pagarem o máximo possível e seus acionistas reduzirem ao máximo a ajuda necessária, explica o economista Edward Hugh.

Madri resiste, tentando ajudar os bancos a reembolsar ações preferenciais, títulos de alto risco vendidos a milhares de pequenos poupadores, entre eles, muitos aposentados que hoje estão à beira da ruína.

Existe também um conflito em torno do preço dos ativos tóxicos que serão transferidos à Sociedade de Gestão de Ativos Procedentes da Reestruturação Bancária (Sareb), que Bruxelas quer reduzir ao máximo para atrair os investidores privados com a promessa de lucros após a revenda, segundo Hugh.

Como resultado, o governo espanhol, decidido a manter o poder de decisão, mudou de discurso, depois de ter insistido publicamente na necessidade de uma recapitalização direta europeia.

A recapitalização "não é algo urgente para a Espanha", afirmou na sexta-feira o chefe do governo Mariano Rajoy em Bruxelas.

Sua equipe não para de repetir que os 40 bilhões de euros necessários representam "apenas" 4% do PIB, uma carga que a quarta economia da zona do euro "pode assumir".

Isso pode ser interpretado como uma resposta à chanceler alemã Angela Merkel que se prepara para as eleições de 2013 em um país reticente a continuar pagando por seus vizinhos em dificuldades. Merkel rejeitou na sexta-feira toda ajuda europeia direta aos bancos pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEDE).

Contudo, existe agora o risco de que as necessidades de ajuda aos bancos superem os 40 bilhões de euros que o governo espanhol se dispõe a pedir a seus sócios da zona do euro, o que agravaria ainda mais a dívida pública do país.

Madri já previu, em seus orçamentos para 2013, 30 bilhões de euros para os bancos, o que elevaria a dívida a 90,5% do PIB. Ela subiria 91,5% com 40 bilhões.

"O problema é que os bancos espanhóis correm o risco de precisar de muito mais", considera a fonte diplomática europeia.

"No momento, fala-se em 40 bilhões, mas, em algum momento será certamente mais", afirma também Hugh, que acredita que será necessário um resgate global da Espanha.

A agência de classificação Moody;s estimou as necessidades dos bancos espanhóis em entre 70 e 105 bilhões de euros.

Segundo os analistas, a recessão em 2012 e 2013 deve ser mais forte que o previsto pelo governo, o que aumentaria ainda mais os créditos duvidosos que pesam sobre os passivos dos bancos, principalmente créditos imobiliários suscetíveis a não serem devolvidos, após ter alcançado um novo recorde de 178,5 bilhões de euros em agosto.

Madri resiste a pedir um resgate global, se apoiando na queda de seus juros de financiamento propiciado pela promessa do Banco Central Europeu (BCE) de comprar títulos da dívida espanhola quando o país solicitar ajuda.

"No momento, o mercado da dívida se mantém tranquilo, mas quando os investidores começarem a duvidar também dos interesses da Alemanha em facilitar uma nova ajuda à Espanha para que este país possa ativar o programa de compra de títulos da dívida do BCE, as taxas de risco da Espanha e da Itália vão voltar a subir", alertaram os especialistas da Link Análisis.

"Há uma queda de braço entre Rajoy e a Alemanha", explica a fonte europeia. "Rajoy diz à Europa: ;se não me ajudarem, de qualquer forma, vocês afundam comigo;", afirma.

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