Agência France-Presse
postado em 29/10/2012 10:38
Tóquio - O primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, advertiu nesta segunda-feira (29/10) que o Estado pode parar de funcionar rapidamente sem financiamento, em consequência de um bloqueio político que impede a aprovação de uma lei que autoriza o governo a emitir títulos."Se a situação continuar, os serviços administrativos vão parar, o que pesará na vida cotidiana das pessoas e travará a recuperação econômica", afirmou Noda na Câmara dos Deputados. Durante um discurso no início da sessão extraordinária do Parlamento, Noda alertou que sem um acordo geral sobre uma lei que permita ao governo emitir novos bônus para cobrir seus gastos, parte da atividade oficial ficará em ponto morto.
"Nenhum governo será capaz de financiar seu funcionamento sem uma lei sobre bônus públicos especiais", afirmou. "Retornaremos ao ponto de um confronto inútil de bancadas, que prioriza a luta pelo poder político, ou tomaremos as medidas necessárias e teremos um debate centrado nas políticas?", questionou o primeiro-ministro.
Noda destacou ainda que é necessário "acabar com o mau hábito de tomar como refém a lei anual sobre títulos e usá-la como ferramenta política". Tal como os Estados Unidos em meados de 2011, o Japão se encontra à beira de um cessar de pagamentos devido a um desacordo entre a maioria e a oposição. Em Tóquio, o bloqueio está centrado em uma lei puramente técnica.
[SAIBAMAIS]Habitualmente, a adoção deste texto que autoriza o governo a emissão de bônus necessários para o funcionamento dos serviços centrais do Estado não é mais que uma formalidade, mas atualmente está bloqueada no Senado. O principal movimento de direita, o Partido Liberal Democrata (PLD), decidiu este ano não votar enquanto Noda não dissolver a Câmara de Deputados para convocar eleições legislativas antecipadas.
O Partido Democrata do Japão (PDJ, centro-esquerda), de Noda, tem maioria na Câmara de Deputados, mas é minoritário no Senado. Para a aprovação da lei de orçamento, a votação de ambas as câmaras é necessário. Caso não aconteça esta votação, o governo da terceira potência econômica mundial poderá ficar sem dinheiro no início de dezembro.
As eleições legislativas devem ser realizadas no mais tardar em meados de 2013, mas a direita reclama que sejam realizadas o mais rápido possível para se beneficiar da impopularidade do executivo, acusado de má gestão da crise gerada pelo acidente nuclear de Fukushima, entre outras coisas.
Em 2012, o país acumula dívidas que alcançam 236% de seu Produto Interno Bruto (PIB), ou 12,9 trilhões de dólares, segundo o último informe mundial do FMI, índice muito superior aos Estados europeus ameaçados pelos mercados como a Grécia (170%), Itália (126%) ou Espanha (90%).