postado em 29/10/2012 14:42
O cenário econômico atual representa um paradoxo para quem pretende transformar rendimentos atuais em aplicações financeiras. Com as taxas de juros no menor patamar histórico, em 7,25% ao ano, já não é mais vantajoso aplicar em poupança e fundos de renda fixa. Ao mesmo tempo, por conta da crise que ainda solapa as economias em todo o mundo, investir no mercado de capitais está se tornando cada vez mais desafiador. Diante do vai-e-vem da bolsa, obter lucros com ações requer, cada vez mais, conhecimento e paciência do investidor.[SAIBAMAIS]A qualidade fundamental de quem quer aplicar em renda variável é ter sangue frio para não se assustar com as oscilações do pregão. Normalmente, a maior procura pela bolsa ocorre justamente nos momentos de euforia, quando as ações já estão muito valorizadas. Isso explica por que há 42 mil pessoas físicas a menos na bolsa neste ano do que havia em 2010, ano em que a economia brasileira cresceu 7,5%. Ainda assim, os número de investidores de carne e osso que têm economias aplicadas em ações é consistente: 568,9 mil até setembro.
Em momentos de crise, o investidor tende a se retrair, apostando em aplicações mais conservadoras, como a poupança. Entre janeiro e 19 de outubro deste ano, foram despejados R$ 33 bilhões nessa modalidade de investimento, segundo dados do Banco Central. Apesar dos números, a rentabilidade da poupança, hoje, é de cerca de 5% ao ano. ;Como a inflação vai ficar acima de 5% este na, estamos falando de um rendimento negativo;, diz Sinara Polycarpo, superintendente de investimentos do banco Santander.
Alternativa para buscar ganhos maiores, a bolsa surge como boa opção para quem está disposto a assumir algum risco e, principalmente, mirar o longo prazo.
Ações
O primeiro passo para entender a bolsa é compreender, de fato, o que são ações. Tome-as como pedacinhos de uma empresa. Ao adquirir uma parte dessa empresa, você se torna sócio dela. E como sócio, tem direito a parte dos lucros que a empresa tiver. Esses lucros são chamados de dividendos. Eles podem ser distribuídos todo mês, a cada três meses, duas vezes por ano ou anualmente.
O pagamento varia conforme a política de cada empresa. Dessa forma, tenha esse fator em mente antes de escolher quais ações merecem ou não figurar na sua carteira de investimentos. Ainda que você compre e venda ações ao longo do tempo, saiba que o investimento em renda variável é aconselhado apenas às pessoas que estejam dispostas a permanecer na bolsa por, no mínimo, 10 anos. ;Ainda que seja difícil pensar em um investimento por 12 meses, saiba que, no mercado de ações, o tempo certo para se investir é bem maior que isso, entre 12 e 30 anos;, diz Sinara.
Ao ampliar o prazo de aplicação, são menores as chances do investidor ser afetado pela volatilidade do mercado. Ainda assim, é importante ter em mente que o vai e vem da bolsa é algo normal, o que exige sangue frio do investidor. Antes de tudo saiba que o risco de quem compra ações é o risco de quem se torna sócio de um negócio da vida real. Se você adquire parte de uma empresa do seu bairro e ela der prejuízo, isso vai se traduzir em menores lucros para você. Com a bolsa acontece o mesmo.
Aprenda a escolher
A diferença entre o investimento da vida real e do mercado financeiro é que o lucro do segundo se traduz em rentabilidade da ação e pagamento de dividendos ao acionista. Primeiro, saiba que há, basicamente, dois tipos de ações: as preferenciais e as ordinárias. As preferenciais são as que geralmente pagam melhores dividendos, que são os lucros que a empresa distribui aos acionistas. Esse tipo de ação está em desuso no mercado, que tem cada vez mais apostado nas emissões de ações ordinárias.
Os papéis desse tipo são os que dão direito a voto e à parte do controle acionário de uma empresa. Um exemplo: se você tiver ações ordinárias de uma empresa que por acaso venha a ser vendida, é provável que esses papéis fiquem ainda mais valorizados do que se fossem do tipo preferenciais. As ordinárias também dão direito à distribuição de dividendos ao portador, mas em menor escala que as preferenciais.
Saber escolher as ações certas pode fazer toda a diferença para o longo prazo. É seguindo essa lógica que o estudante de ciência da computação Matheus Vasconcelos, 23 anos, já projeta viver de renda a partir dos investimentos que faz desde os 17 anos no mercado de renda variável. ;A minha metas para o futuro é criar uma carteira de ações que me permita aproveitar os dividendos ao longo do tempo. Depois disso penso em aproveitar minha aposentadoria;, conta o rapaz que começou aplicando apenas R$ 1 mil em ações.
O que faz a corretora
Depois de compreender o que é uma ação e como ela pode lhe garantir rendimentos futuros, saiba que o primeiro passo para se tornar um investidor em ações é, primeiro, se tornar cliente de um banco ou corretora credenciados pela BM Bovespa. São essas instituições que efetivamente compram e vendem papéis no mercado financeiro, tudo, é claro, após o comando do investidor.
Funciona da seguinte forma. Uma pessoa quer vender ou comprar uma ação. Após escolher qual o preço ela aceita pagar ou vender esse papel, a corretora vai a mercado e coloca à disposição essa oferta. Se houver um outro cliente de corretora que esteja disposto a aceitar a oferta no preço que foi estipulado, fecha-se o negócio.
Por cada um dos serviços prestados, cobra-se uma taxa. A de corretagem varia de zero a uma porcentagem sobre a operação, que, em alguns casos, pode ser de até 1%. É comum também que algumas empresas cobrem um valor fechado, equivalente a cerca de R$ 50 por ordem cumprida no mercado.
Normalmente as taxas são menores para o chamado investidor self-service, aquele que costuma tomar, sem ajuda da corretora, decisões de compra e venda de ações. Nesse caso, as ordens de negócio são dadas por meio de um home broker, programa de computador que faz a ponte entre o aplicador e a corretora contratada. ;Quanto mais serviços o investidor utiliza, mais caro é a taxa de corretagem. Mas ele tem que ficar atento porque operar sozinho é mais arriscado, porque são muitos os fatores que ele tem que levar em conta ao decidir quais ações comprar e vender no mercado;, explica o sócio da DX Investimentos, Felipe Chad.
Além da taxa de corretagem, há também os custos administrativos cobrados pela BM Bovespa, como taxa de emolumentos e de liquidação. Por último, há a taxa de custódia das ações, que é cobrada pela Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC). Essa tarifa é como um seguro que o investidor paga para salvaguardá-lo em caso de quebra da corretora ou banco que ele é cliente. A cobrança tem valor fixo de R$ 6,90 ao mês, mas pode chegar até a R$ 50 dependendo da corretora que ele for cliente.
O estudante de direito Guilherme Miranda Lopes, 23 anos, sempre leva em conta todas essas taxas antes de investir no mercado de ações. ;Quando eu não tenho uma quantia que seja suficiente para cobrir as taxas de corretagem, ficar parado na poupança pode até ser uma boa opção para juntar dinheiro;, diz.
Acostumado a acompanhar o vai-e-vem das ações desde quando tinha 14 anos, ele procura conhecer bem as companhias de que vai se tornar sócio antes de fechar negócio. ;Ultimamente tenho aplicado em empresas que estão entrando no mercado agora e as que sofreram uma queda muito grande no valor das ações. Se vejo potencial grande de valorização, são essas ações que se tornam alvos do meu investimento;, ensina.
[SAIBAMAIS]Fundos de investimento
Para quem não tem tempo de acompanhar o mercado, nem tem condições de arcar com as pesadas taxas administrativas que incidem sobre a operação da bolsa a dica é colocar os custos na ponta do lápis e avaliar se o dinheiro que você tem disponível para investir em ações compensa o pagamento desses encargos. Para Felipe Chad, só vale a pena se aventurar no mercado que tem em mãos, pelo menos, R$ 10 mil. ;Para quem tem menos que isso e quer investir em bolsa, aconselho aplicar fundos de ações ou fundos de índice;, explica.
Para Sinara Polycarpo, o investidor que tenha em mãos menos de R$ 30 mil deve fugir das aplicações tradicionais em ações. ;Dependendo do que você paga de custos fixos, o ganho que você com ações tem não vai compensar o investimento inicial. Por isso, a dica é acumular dinheiro em fundos de índices ou fundos de ações e depois, sim, ir para o mercado;, diz.
Os fundos de ações e de índices são a forma mais barata para se investir em ações. Eles aceitam aplicações entre R$ 100 e R$ 200, respectivamente, dependendo da corretora, e custam ao investidor o equivalente ao que um fundo de renda fixa tradicional cobra em taxas de manutenção e administração. A vantagem é que, por acompanharem o mercado de renda variável, costumam ser mais voláteis ;o que quer dizer que podem dar lucros mais gordos ou prejuízos mais amargos, dependendo da variação dos parâmetros que seguem.
Os fundos de ação acompanham um conjunto específico de ações de empresas. Elas são escolhidas conforme a política de investimentos definida pelos próprios cotistas. Já os fundos de índices seguem a rentabilidade de setores da economia, como imobiliário, de energia e até o próprio Índice Bovespa. Ambos são como fundos de investimento tradicionais, mas têm a vantagem de serem isentos de pagarem o chamado come-cotas, uma antecipação semestral do Imposto de Renda (IR) que reduz o rendimento da aplicação.