postado em 01/11/2012 16:11
Os efeitos da seca prolongada que castiga várias regiões do país, principalmente nos extremos do Brasil, como o Semiárido nordestino e a Região Sul, ainda pode chegar ao bolso do consumidor. O alerta não recai apenas sobre os preços de produtos afetados pela perda de culturas, como a de grãos, ou os impactos na produção animal. Especialistas temem agora os efeitos desse cenário no preço da energia consumida pelas indústrias e residências. A estiagem deste ano levou autoridades a decretar situação de emergência em mais de mil cidades brasileiras.A explicação está nos atuais níveis dos reservatórios em todo o país, que alimentam as usinas hidrelétricas, geradoras das energias mais baratas. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios no Sudeste estão com apenas 37% da capacidade, enquanto no Nordeste, essa porcentagem chega a 34% e no Norte e Sul, 41%.
;Está chovendo pouco, as hidrelétricas estão com os reservatórios baixos e estamos sendo obrigados a gerar energia com térmicas caras;, explicou Paulo Pedrosa, presidente executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).
Como o volume não é suficiente para atender a demanda do mercado, o sistema busca energia oferecida por outras usinas, como as térmicas a gás, óleo e diesel, que podem custar mais de dez vezes o valor da energia gerada a partir dos reservatórios. O resultado, segundo Pedrosa, já é sentido pelas indústrias que compram direto do mercado livre de energia, como as de aço, alumínio, cimento e produtos químicos. Pelas contas da Abrace, a fatura de novembro para o setor pode chegar a R$ 500 milhões.
;O último leilão de hidrelétrica, o de Teles-Pires, ofertou energia de R$ 58 o megawatt/hora. Hoje estamos gerando até com térmicas que custam R$ 1.060;, exemplificou. Segundo ele, quando o reajuste chegar nas distribuidoras de energia, como a Light e a Eletropaulo, o preço será cobrado dos consumidores.
[SAIBAMAIS] Pedrosa destaca que o Brasil tem uma condição especial para produzir energia barata a partir de reservatórios, mas, segundo ele, a situação atual, somada à estiagem prolongada mostra que esse potencial não tem sido aproveitado. ;Infelizmente temos usado menos do que poderíamos dessa vocação e temos diminuído a capacidade de reservatórios das hidrelétricas. As últimas [hidrelétricas] construídas têm menos reservatórios. Estamos perdendo a capacidade de armazenar energia quando tinha muita chuva e usar essa energia no período da seca;, afirmou.
O presidente da Abrace lembra que a situação deste ano se aproxima da do cenário de 2008 e de 2001, quando ocorreu o racionamento de energia que ficou conhecido como ;apagão;.
Com a seca atípica deste ano, o volume de chuva, apenas no mês de outubro, no Nordeste atingiu 42% da média, no Norte e Sudeste do país, o nível de chuva não ultrapassou os 65% da média dos meses de outubro. Apesar do cenário ainda pessimista, Pedrosa acredita que a forte chuva que caiu nesta madrugada (1;), em Brasília, pode ser um bom sinal para os próximos dias. ;Mas tem que chover um pouco abaixo de Brasília, na área de Minas Gerais. É aquela água que enche os principais reservatórios do Brasil inclusive do Nordeste;, disse.
Apesar das perspectivas de reajustes nos preços de energia, Pedrosa afasta qualquer possibilidade de um novo racionamento. ;Temos mais recursos hoje. O problema não é um problema de apagão, mas de pagão;, garantiu. ;Há problema de preço que afeta a competitividade muito em função desta baixa chuva. Mas não há problema estrutural e o sistema não está em risco nem por falha de razão elétrica nem por falhas de razões energéticas;, acrescentou.