Agência France-Presse
postado em 06/11/2012 16:27
Atenas - Com os serviços públicos suspensos e os transportes paralisados, a Grécia iniciou nesta terça-feira (6/11) uma greve geral de 48 horas convocada pelos dois principais sindicatos do país para protestar contra o projeto plurianual de austeridade apresentado na segunda-feira (5/11) no Parlamento.Portando cartazes com dizeres como "Os seres humanos antes de tudo" e "Não às medidas", 25.000 pessoas se manifestaram em Atenas, convocadas pelos dois grandes sindicatos, GSEE e ADEDY, e outras 15.000 foram chamadas pelo sindicato comunista PAME, segundo dados da polícia.
Ainda de acordo com as autoridades, cerca de 20.000 pessoas estavam em Tessalônica, nas primeiras manifestações prévias às grandes marchas previstas para quarta-feira (7/11) à noite, quando haverá votação na câmara.
"Estas medidas retrocedem nossas conquistas em muitos anos. Todos os direitos trabalhistas conquistados pelo povo grego desde a Segunda Guerra Mundial e do fim da ditadura (em 1974) serão anulados", declarou a sindicalista Maria Lavrentiadou.
Nenhuma linha de metrô, ônibus, bonde ou táxi circulava em Atenas nesta terça-feira. A rede nacional de trens também foi suspensa e muitos voos domésticos foram adiados por uma greve dos controladores aéreos. A greve também afeta a justiça, especialmente juízes e advogados.
Na capital, a polícia organizou um grande esquema de segurança para afastar os manifestantes do Parlamento e de outros prédios do governo.
O projeto de lei plurianual (2013-2016), com apenas um artigo de quase 500 páginas, inclui o aumento da idade de aposentadoria, que passaria de 65 para 67 anos, e o fim dos pagamentos extra dos funcionários públicos.
Também está prevista a redução de benefícios sociais, o controle da gestão de empresas públicas, a organização do sistema de saúde e flexibilização na legislação trabalhista.
Os credores da Grécia - União Europeia (UE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) - consideram as medidas e o orçamento estatal para 2013, que será votado domingo, condições ;sine qua non; para examinar a liberação de uma parcela do empréstimo concedido à Grécia para evitar a falência.
Ao todo, o projeto de lei prevê economizar 18 bilhões de euros no período 2013-2016, para reduzir o déficit público a menos de 3% do PIB, como estabelecem as normas europeias.
"Estas medidas são como uma faca de dois gumes. Por um lado, não teriam que ser aprovadas, mas, por outro lado, devem ser aprovadas", disse Yannis Levas, de 34 anos, que trabalha em uma empresa de busca de empregos para os (numerosos) gregos que desejam emigrar.
"O dilema sobre se voltaremos ou não ao dracma permanece e é com esta desculpa que votaremos estas medidas", disse Levas.
"Creio que estas medidas afetarão profundamente aos gregos", afirmou Yiorgos Patras, empregado de banco.
Às vésperas das eleições norte-americanas, o caso da Grécia e da crise da Zona Euro foi discutido na segunda-feira na reunião do G20 no México, de onde emergiram informações aparentemente contraditórias.
Na terça-feira, o presidente da UE, Herman Van Rompuy, pediu ao governo grego para que tomasse as decisões necessárias para chegar a um acordo final com a troika, dizendo-se "convencido" de que tudo será feito a tempo.
"Seguimos discutindo em Atenas alguns problemas persistentes", observou.
[SAIBAMAIS]Já o chefe do grupo de ministros de Finanças da Eurozona, Jean-Claude Juncker, disse estar "muito otimista" sobre a capacidade da Grécia em realizar as medidas de rigor necessárias e disse que os gregos "não têm outra opção".
O comissário europeu de Assuntos Econômicos, Olli Rehn, por sua vez, disse que os países da Eurozona estão "no caminho" de tomar na próxima semana uma decisão sobre o próximo resgate da Grécia, de um total de 31,2 bilhões de euros. Contudo, outro funcionário de alto escalão europeu expressou dúvidas sobre um acordo iminente.
Os ministros de finanças da Eurozona devem se reunir no dia 12 de novembro para decidir se desbloqueiam a ajuda, necessária para que a Grécia consiga evitar um "default" a partir deste mês. Atenas terá de arcar com o vencimento de obrigações de 5,5 bilhões de euros quatro dias depois do encontro.