Marinella Castro/Encontro BH
postado em 19/11/2012 10:10
A pouco mais de um mês do Natal uma nuvem escura paira sobre o comércio exterior brasileiro. Funcionários da Receita Federal em greve desde o primeiro semestre prometem endurecer o movimento. Nesta semana e também em dezembro, época em que o fluxo das importações cresce perto de 20%, as alfândegas vão receber pressão extra com a redução do ritmo dos desembaraços nos portos marítimos, secos e nos aeroportos do país. Entre hoje e sexta-feira os grevistas indicam que vão ficar cinco dias sem fazer qualquer liberação de mercadorias, o que deve se repetir entre 10 e 14 de dezembro, elevando os custos das importações para as empresas e do Natal para os consumidores brasileiros.
Representantes do setor industrial e do comércio exterior estão preocupados e enviaram comunicado oficial aos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O documento também foi encaminhado para outros seis ministérios.
Tradicionalmente em novembro o volume de importações é maior e para o setor produtivo as notícias da greve que se arrasta desde o primeiro semestre não poderiam ser piores. ;Com esse movimento de desembaraço zero, o custo das importações vai crescer até 10%, o que pode encarecer os produtos que levam esses insumos entre 3% e 5%;, calcula Frederico Pace, importador e presidente do Conselho de Logística de Portos da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas).
;Se o desembaraço zero vier de fato, o Brasil vai ser exposto, criando uma crise de confiança, significa que ficamos reféns de uma categoria. Em um momento de crise no mundo os países estão eliminando entraves internos, enquanto o Brasil mostra uma falta de controle;, critica José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB). Junto com a Federação das Indústria do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e outras quatro entidades do comércio exterior, a AEB assina o documento encaminhado ao governo federal. Segundo Castro, além do alerta sobre o risco da paralisação do setor produtivo, o documento pede ao governo federal a criação de uma lei. ;Pedimos que seja criada uma lei de greve para o setor público. A imagem do Brasil fica muito arranhada;, diz Castro.
[SAIBAMAIS]Com a operação padrão o desembaraço de mercadorias já estava levando entre dois e cinco dias além da média, provocando crescimento dos custos de armazenagem e falta de produtos em linhas que operam no sistema just in time, ou seja, que são abastecidas por peças e insumos no ritmo da necessidade da produção.
Prejuízos em cadeia O endurecimento da greve nas proximidades do Natal vai impactar a indústria em um momento de custos em alta com a folha de pagamento devido ao décimo terceiro salário. Dependente do mercado externo, o polo de Santa Rita concentra 150 empresas que importam por ano perto de US$ 700 milhões, e segundo o Sindvel uma parada na produção por falta de equipamentos e insumos causa prejuízos na ordem de R$ 41 milhões por semana. ;Parar a produção nesta época do ano significa um efeito em cadeia de crescimento dos custos;, observa Roberto Souza Pinto, do Sindvel.
Marcelo Veneroso, diretor da Neuman and Esser, indústria que fabrica compressores e utiliza cerca de 25% de componentes importados (abaixo da média do setor de máquinas e equipamentos, onde os importados têm participação de 60%), lembra que a liberação dos produtos que importa já está ocorrendo com três dias de atraso. ;O primeiro custo que cresce é o de armazenagem, mas existem vários outros impactos graves como o descumprimento do cronograma de obras.;
Após sete dias o custo de armazenagem nos portos cresce de 0,5% para 0,8% sobre o valor total do frete e mercadoria. Após esse período o custo dobra em relação à fase inicial e chega a 1% e não para de subir até atingir 1,5%. ;O que mais afeta a indústria é a falta de previsibilidade;, argumenta Frederico Pace, da ACMinas. Segundo ele, as mercadoria já estavam sendo liberadas no segundo período e com o acirramento da greve dos servidores da receita esse tempo vai avançar para o terceiro, com os custos mais altos. ;Diversas empresas no país já estão utilizando mandatos de segurança para os navios atracarem. O movimento está bem forte;, conta.
O que eles pedem?
Sem acordo com o governo federal, os servidores pleiteam reajustes de 27% referentes às perdas dos últimos três anos, mas o governo propõe 15% parcelados em três anos. Com o movimento, o país registrou no último trimestre queda de R$ 9 bilhões em lançamentos, que correspondem a modos de infração e notificações que deixaram de ser realizados.