postado em 03/12/2012 08:20
Rio de Janeiro ; Os dois anos de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas), em 2011 e, sobretudo, em 2012, provocam ainda mais incertezas sobre a economia no próximo ano. Na avaliação do economista Renato Fragelli, da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), os pibinhos dão também motivos para uma revisão das medidas de estímulo adotadas pelo governo. ;A variação de um trimestre para outro diz pouco, mas a trajetória de longo prazo sugere a necessidade de criar melhor ambiente para os negócios;, afirma nesta entrevista ao Correio.
Por analogia, ele lembra que a gestão Ernesto Geisel (1974-1978) também apostou pesado em estímulos a alguns setores industriais como forma de reagir à crise econômica internacional da época. Mas houve descuido com os resultados obtidos pelos esforços de austeridade dos governos passados. ;Não é possível industrializar o país a qualquer custo. O mundo mudou muito nos últimos
20 anos e o país precisa descobrir qual é o seu papel na nova realidade econômica;, adverte.
O professor vê problemas na estratégia para o petróleo, em razão da missão atribuída à Petrobras como instrumento de impulso às compras de itens majoritariamente nacionais e de controle da inflação, segurando os preços de combustíveis. Mas o que mais o preocupa são os danos para credibilidade conquistada pelo país perante os investidores estrangeiros gerados após as recentes intervenções em setores regulados, como o elétrico.
O senhor também se decepcionou com o avanço pífio do PIB no terceiro trimestre, de só 0,6%?
O crescimento de um trimestre para outro não é algo muito revelador para o desempenho da economia. Prefiro analisar uma trajetória mais ampla, pois ela mostra o momento histórico, que reflete as escolhas certas e erradas tomadas pelo governo para enfrentar realidades adversas, sobretudo no plano externo. Entre as décadas de 1950 e 1980, o PIB do Brasil cresceu a uma taxa média anual de 7,5%. Dentro desse período, a desorganização inflacionária no começo dos anos 1960 levou ao golpe militar. Os primeiros dois anos da ditadura serviram para corrigir excessos que, sob ventos internacionais favoráveis, levaram ao chamado milagre econômico, de 1967 a 1973. Infelizmente, o governo Ernesto Geisel não quis perder os louros do antecessor Emílio Garrastazu Médici e preferiu colocar o pé no acelerador em um ambiente adverso, com juros e preços do petróleo em alta, via investimentos estatais e incentivos a setores isolados. O Brasil perdeu a chance de tornar a economia mais eficiente e o resultado foi a década perdida. Em 1984, tínhamos o mesmo PIB de 1979, e de 1988 a 1993 o país parou, enquanto a população crescia, derrubando a renda média.
A inflação parece ainda estar longe de um descontrole e o consumo não para de crescer.
As reformas de base realizadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) levaram a um longo período de estabilidade, por quase duas décadas, e o principal efeito disso está nos ganhos de renda. Felizmente, o governo petista conseguiu recuperar a confiança, com uma transição bem conduzida pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda) e seu secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa. O efeito Lula foi debelado de vez e o país voltou a gozar da confiança externa, fundamentada na compreensão de que a esquerda radical brasileira tinha se tornado social democrata. Depois disso, uma legítima política de transferência de renda conseguiu incorporar milhões de novos consumidores.