Agência France-Presse
postado em 11/12/2012 14:09
Madri - A América Latina foi, durante a última década, uma fonte de mão de obra durante os anos do avanço das construções na Espanha, mas, com a explosão da bolha imobiliária e consequente crise, o fluxo inverteu-se. Os imigrantes foram os primeiros a perder seu trabalho quando a crise eclodiu e muitos deles decidiram voltar a seus respectivos países, e agora estão sendo seguidos pelos espanhóis, que esperam encontrar uma oportunidade nas nações do outro lado do oceano.Com um desemprego que afeta um quarto da população ativa e chega a 52% entre os jovens entre 16 e 24 anos, os espanhóis se dirigem não apenas para o norte da Europa, como também para países em plena expansão, como o Brasil ou a Venezuela para encontrar um trabalho ou criar uma empresa.
Mercedes Martín, de 29 anos, está se preparando para vir no final deste ano para o Brasil, onde espera expandir sua empresa de web design e marketing. "Na Espanha as coisas estão difíceis porque as empresas não investem, têm muito medo, economizam com cortes e, no Brasil, acho que há mais oportunidades", afirma Mercedes.
"Há muito mais demanda de emprego no Brasil, de pessoas qualificadas, principalmente diante da realização do Mundial de Futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016;, acrescenta.
Com o boom imobiliário dos anos 2000 na Espanha, também ocorreu um grande aumento de sua população: as estatísticas nacionais mostram que houve um crescimento de cinco milhões de pessoas entre 2002 e 2009, quando ficou evidente a crise financeira internacional.
Com a Espanha em recessão, a onda de imigrantes parou e a população local se viu obrigada a reverter o fluxo para fugir da pobreza. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2011 e setembro de 2012, 117.000 espanhóis deixaram o país.
Em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, Catherine Hernández, de 37 anos, se prepara para viajar para a Venezuela, beneficiado pela dupla nacionalidade. Ela trabalhava em uma rádio, mas agora, como as Canárias possuem um dos maiores índices de desemprego da Espanha ; mais de 33% -, ela quer aproveitar o crescimento econômico da Venezuela.
"Não tenho trabalho. Na Venezuela, o momento é de florescimento, há muitas opções para fazer coisas, há trabalho de todos os tipos", explica. Durante o boom econômico da última década na Espanha, o latino-americano era muito mal visto, segundo ela. "A idéia era de que os pobres vinham para a Espanha tirar o trabalho dos espanhóis... e agora essas pessoas que os denegriam, estão na mesma situação e querem sair daqui", comenta.
Muitos espanhóis também optam por ficar na Europa mesmo, e olham para o norte, principalmente para a Alemanha. O Instituto Goethe de Madri, uma organização cultural alemã, assegura que as inscrições para seus cursos aumentaram 50% em dois anos.
"Podemos apreciar desde fevereiro de 2011 um novo e robusto grupo de alunos", afirmou o diretor do Instituto em Madri, Manfred Ewel. "Aproximadamente 25% dos nossos estudantes são engenheiros, médicos ou especialistas em informática que buscam um futuro profissional na Alemanha;, acrescentou.
Outros apostam em outros países europeus menos prósperos. Contente por poder trabalhar e também aprender inglês para melhorar suas perspectivas profissionais, Jaime Mora, de 21 anos, um designer de Madri, pegou um avião para Liverpool, noroeste da Inglaterra, porque ;achou bonito o nome da cidade;.
"A escolha foi meio louca... Comprei a passagem na terça e viajei na semana seguinte;, conta. Em poucas semanas, conseguiu um trabalho lavando pratos em um abrigo de idosos, alugou um apartamento e está estudando numa escola que oferece aulas de inglês de graça.
Nessa escola, 90% dos alunos são espanhóis, incluindo um psicólogo, um biólogo e alguns engenheiros. "O mais difícil é deixar a família, os amigos. Mas é uma formação de vida. Faz a gente crescer a passos largos;, conclui.