postado em 21/12/2012 09:08
Novo xerife do mercado de capitais brasileiro, Leonardo Pereira, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), garante que ninguém pode se esquivar das leis, nem mesmo o governo, controlador de três das maiores empresas com ações negociadas em bolsa de valores: Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil. ;As regras valem para todos os que querem estar no mercado;, afirma. À frente da CVM há sete semanas, ele diz que gastou boa parte do seu tempo para avaliar o processo de intervenção do Estado nas estatais. Mas, depois de analisar atentamente os documentos enviados pelas companhias à autarquia, constatou que todas fizeram alertas para o risco de perdas por causa de políticas governamentais, como as de segurar os preços dos combustíveis, reduzir as tarifas de energia e exigir juros menores aos consumidores.Esse ponto, no entender de Pereira, só reforça a necessidade de se ampliar a educação financeira. Os investidores que aplicam parte de seus recursos em ações de empresas públicas ou privadas devem entender perfeitamente os riscos que estão correndo. A mesma lógica vale para os fundos de investimentos, que abrigam mais da metade da poupança dos brasileiros. Não à toa, garante, a CVM vai intensificar a divulgação de informações sobre todas as aplicações que estão sob sua alçada. Para Pereira, poderá haver um risco sistêmico de quebradeira, caso a nova classe média não aprenda, adequadamente, como investir o dinheiro. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista que o presidente da CVM concedeu ao Correio Braziliense.

O mercado brasileiro está bem regulado? O investidor está protegido?
Não vejo hoje, no mercado, a possibilidade de risco sistêmico. Mas há um grande desafio pela frente para que nada de anormal ocorra: aumentar a educação dos investidores. Há um grande potencial de crescimento do mercado financeiro no Brasil. Tem uma nova classe média com dinheiro para aplicar. Se não houver uma educação, aí, sim, teremos um risco sistêmico, um grande problema. Temos que nos conscientizar que a mobilidade no Brasil não vai parar. Então, mais e mais pessoas buscarão alternativas para proteger o patrimônio e garantir um futuro mais tranquilo.
Uma das maiores queixas de quem busca proteção nos fundos de investimentos, controlados pela CVM são as elevadas taxas de administração cobradas pelos bancos. Cálculos mostram que pelo menos 30% dos rendimentos são engolidos por esses encargos. Como a CVM está vendo esse processo?
Eu não posso julgar o que é cobrado pelos bancos. Mas é preciso que todas as instituições deixem claro o que estão exigindo para administrar o dinheiro da clientela. Como regulador, tenho que ter a certeza de que, quando alguém vai a um banco, as taxas sejam especificadas, independentemente do valor. Tudo o que é cobrado tem de ser informado. O investidor tem de saber quanto aproximadamente vai ganhar, quanto é a taxa de administração, quanto é a inflação. Isso é transparência.
Mas os administradores de fundos fazem questão de sonegar informações. As assembleias nas quais são detalhadas as informações são sempre realizadas em lugares distantes e em horários inconvenientes. Como o senhor vê isso?
Com certeza, isso precisa ser resolvido. Realmente, do jeito que é feito hoje, os investidores nunca conseguem ir às assembleias. Há várias discussões em andamento para melhorar esse processo. As assembleias têm de ser transparentes. Sabemos que não há como mudar tudo rapidamente. Mas vamos agir. Tentar encontrar o melhor caminho possível. Permitir que o maior número de pessoas tenham acesso às informações básicas sobre seus investimentos.
