Economia

Chuva na Bahia durou menos do que os produtores da região esperavam

postado em 28/12/2012 09:52
A chuva que chegou em parte da Bahia, um dos estados que mais sofreu com a seca deste ano, a mais intensa das últimas quatro décadas no Semiárido nordestino, durou menos do que os produtores da região esperavam. Segundo João Martins, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), os baianos ainda estão vivendo o ;pico da seca; no norte e centro do estado.

;Melhorou bastante. Saimos da situação altamente crítica, mas se continuar o sol que está e a previsão se confirmar, dificilmente vai chover nas próximas semanas e vamos voltar para UTI [unidade de terapia intensiva];, disse, ao comparar a situação do estado com a saúde de um paciente. A Bahia se diferencia de grande parte do Semiárido por ter, normalmente, chuva mais cedo. No sudoeste, oeste e extremo sul do estado, os agricultores tiveram trégua com a chuva, que ainda se mantém e contribuiu para recuperar os níveis de reservatórios de água que abastecem as grandes cidades. Mas, a estiagem ainda ameaça fruticultores e pecuaristas no centro e norte baianos.

;A caprinocultura que está toda nessa região sofreu muito. A redução de leite chegou a mais de 80%. Se não fosse a oferta [de água] do extremo sul, estaríamos com problema de abastecimento interno;, calculou Martins. O governo ainda não fechou as contas sobre as perdas e aguarda a estabilização das chuvas para fazer a avaliação. Martins informou que as estimativas indicam que os prejuízos podem ficar entre R$ 4 bilhões e R$ 7,8 bilhões. ;Isso porque a agricultura se reflete no comércio e nos serviços. Se o agricultor não tem renda, ele não compra mercadoria, não demanda serviço. Ainda achamos que o governo está sendo otimista nesse cálculo;, disse.

A produção de café da Bahia, o quarto maior produtor do país, já contabiliza redução de quase 1 milhão de sacas. A produção normal é 3 milhões de sacas de café por ano, comercializadas a R$ 350 a saca do tipo arábica, típico das regiões mais afetadas no estado.

No Rio Grande do Norte, a produção de milho e feijão deve ficar 90% abaixo do volume médio anual, segundo estimativas do governo estadual. Os produtores não falam em perdas, mas em frustração de safra. Mais de 85% dos grãos que não serão colhidos não foram sequer plantados. ;Há alguns municípios em que, de fevereiro até agora, não choveu sequer 50 milímetros, como São José do Siridó;, disse Simplício Holanda, secretário adjunto de Agricultura, Pecuária e Pesca do Rio Grande do Norte.



Os efeitos da estiagem sobre a cajucultura é uma das maiores preocupações das autoridades locais. Além de responder pela ocupação de cerca de 150 mil trabalhadores durante o período de colheita da castanha, o estado concentra empresas especializadas no beneficiamento do produto para o mercado interno e para exportação. Até agora, a estimativa é que a produção fique 70% abaixo da média de 50 mil toneladas de castanha em anos normais. ;Temos grandes beneficiadores, grupos de empresas que beneficiam mais de 20 mil toneladas por ano. Só não paramos porque estamos importando a castanha [in natura] da África;, explicou Holanda. Segundo ele, desde 2010 o estado já importou mais de 40 mil toneladas do produto.

Atualmente, 1,3 mil municípios do nordeste e do norte de Minas Gerais estão em situação de emergência reconhecida pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. O governo estima que 10,3 milhões de pessoas ainda são prejudicadas pela seca, que deverá persistir na maior parte da região.

;Há 75% de chance de ser entre média e abaixo [da média];, disse Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo ele, ainda que o volume total de chuvas na região fique perto da média desses meses, as chuvas ocorrerão ;com enorme irregularidade espacial e geográfica. Há lugares em que pode chover acima e outros em que deverá chover até bem abaixo;.

Nobre considera a situação alarmante e defende a manutenção dos programas estruturais e emergenciais do governo para o Semiárido, como o abastecimento de água por carros-pipa e o repasse de recursos para os estados. ;Os lugares que sofrerem déficit hídrico pronunciado por dois anos vão ficando cada vez mais vulneráveis. O que não se projeta é um ano daqueles invernos bons, que reabastecem todos os açudes pequenos, médios e grandes;, acrescentou o especialista.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação