Economia

Governo do Japão anuncia megaplano econômico para tirar país da crise

O plano de medidas de urgência visa a criação de 600 mil postos de trabalho e elevar o produto interno bruto (PIB) em dois 2 pontos percentuais

Agência France-Presse
postado em 11/01/2013 10:52
Tóquio - O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, anunciou nesta sexta-feira um plano de reativação econômica de 20,2 trilhões de ienes (cerca de 226,5 bilhões de dólares) para tirar o país da crise crônica. O pacote prevê 10,3 trilhões de ienes em gastos públicos para dinamizar a atividade, combater a deflação e reduzir o valor da moeda nacional, com foco em grandes obras públicas, especialmente para acelerar a reconstrução do noroeste do país arrasado pelo tsunami de 11 de março de 2011. O governo também planeja restaurar pontes, túneis e outras infraestruturas por todo o país.

O objetivo é estimular o crescimento da terceira maior economia mundial e enfrentar a deflação que prejudica o consumo, o investimento e freia a atividade econômica. "É extremamente importante acabar com a deflação prolongada e o alto preço do iene", disse o primeiro-ministro, no cargo desde 26 de dezembro após a vitória de seu Partido Liberal Democrata (PLD) nas eleições legislativas antecipadas.

O plano de "medidas econômicas de urgência" visa a criar 600 mil postos de trabalho e elevar o produto interno bruto (PIB) em dois 2 pontos percentuais. Os investidores japoneses deram as boas-vindas ao novo pacote econômico. O índice Nikkei 225 da Bolsa de Tóquio subiu 1,4% e fechou no seu nível mais alto em 22 meses, desde fevereiro de 2011, antes da catástrofe da usina nuclear de Fukushima.



[SAIBAMAIS]O iene registrava queda de 89,35 unidades por dólar, seu nível mais baixo desde junho de 2010, o que favorecia às empresas exportadoras. A economia japonesa contraiu 0,6% em 2011. A cifra do ano passado está ainda para ser publicada. "É extremamente importante acabar com a deflação prolongada e a escassez do iene", declarou Abe, dando ênfase a dois pontos chave de sua campanha.

Abe voltou a insistir na importância de um trabalho "lado a lado" com o Banco Central do Japão, que segundo ele, deve aplicar uma política monetária mais generosa para acabar com a queda contínua dos preços, que segura a atividade, os investimentos, a alta dos salários e o consumo. O objetivo do primeiro-ministro é manter uma inflação de 2%.

O pacote pretende ainda ajudar as empresas a enfrentar taxas de câmbio desfavoráveis e a desenvolver novas mercadorias e serviços para substituir produtos com alta concorrência no exterior. O pacote econômico é um dos maiores junto com os adotados durante a crise financeira de 2008-2009. O plano para o atual ano fiscal (abril de 2012 a março de 2013) deverá ser votado pelo Parlamento a partir de 28 de janeiro e será financiado, em parte, pela emissão de novos bônus do Tesouro.

O governo conservador elimina assim o limite do aumento do endividamento anual, de 44 trilhões de ienes (551 milhões de dólares), adotado pelo governo precedente, de centro-esquerda, na esperança de reduzir a colossal dívida do país (mais de 200% do PIB). "Um gasto deste tamanho estimulará a economia neste momento. Mas se não conseguirmos propiciar uma recuperação sustentável, o Japão poderia cair em um círculo vicioso, que demandaria ainda mais estímulo", advertiu Taro Saito, economista do instituto de pesquisa NLI.

O primeiro-ministro insistiu que não haveria desperdício e reiterou que mesmo que a disciplina orçamentária seja de muita importância, não será possível melhorar a situação fiscal do país antes que haja crescimento. O governo, que espera recolocar a economia nos trilhos, além de destinar boa parte dos recursos para reconstruir as áreas devastadas pelo sismo e pelo tsunami, também quer aumentar o gasto militar.

O plano prevê ainda 180,5 bilhões de ienes para a compra de mísseis, caças e helicóptero. O governo japonês quer rearmar o exército num contexto de tensão com Pequim pela soberania do arquipélago no Mar da China Oriental. O primeiro-ministro Shinzo Abe criticou ainda a China, onde as empresas japonesas padecem dos efeitos de um conflito diplomático bilateral. "Agredir com fins políticos às companhias japonesas e aos cidadãos japoneses que se encontram na China e que contribuem para a economia (do país), não é correto por parte de um Estado responsável", declarou. Abe acrescentou ainda que este imbróglio "não apenas irá afetar às relações bilaterais se não que também terá um impacto muito negativo na própria economia china".

Em setembro de 2012, foram desencadeadas violentas manifestações e destruição de produtos japoneses após a nacionalização parcial das ilhas Senkaku do Japão, a 200 km a nordeste da costa de Taiwan e a 400 km a oeste da ilha de Okinawa, no sul. A China, por sua vez, reivindica, este pequeno arquipélago administrado pelo Japão sob o nome de Diaoyu. Desde então, as relações sino-japonesas estão muito tensas e parte do plano de reativação econômica anunciado por Shinzo Abe vai destinar-se ao reaparelhamento das forças armadas.

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