Agência France-Presse
postado em 07/02/2013 16:52
Frankfurt - O Banco Central Europeu manteve sua taxa básica de juros nesta quinta-feira e respondeu às preocupações francesas de que um euro forte representaria uma ameaça à recuperação na área de moeda única.Como amplamente previsto pelos analistas e observadores do BCE, o Conselho do BCE votou pela manutenção da principal taxa de refinanciamento no nível historicamente baixo de 0,75%, em que está desde julho.
Nenhum analista do BCE esperava que o presidente do Banco Central, Mario Draghi, anunciasse novas medidas políticas, em termos de taxas de juros ou medidas de emergência anti-crise, dado o escopo e a extensão de suas ações anteriores.
Draghi disse em uma coletiva de imprensa que a decisão de não alterar a taxa foi unânime, considerando a avaliação de que as pressões inflacionárias provavelmente continuarão contidas nos 17 países da zona do euro e que a economia da região deve começar a se recuperar gradualmente no final deste ano.
Além de reduzir os custos dos empréstimos da zona do euro a seu nível mais baixo, o BCE injetou mais de 1 trilhão de euros no sistema bancário por meio das operações de refinanciamento de longo prazo, as LTROs na sigla em inglês, para evitar o desastre da crise de crédito.
O banco também construiu um novo mecanismo especial, chamado OMT (Transações monetárias diretas), para comprar títulos soberanos dos países mais vulneráveis.
Draghi disse que seu extenso arsenal se mostrou eficaz em ajudar a zona do euro a superar a crise de três anos. Os bancos da zona do euro já pagaram antecipadamente grande parte de seus empréstimos de emergência e "isso reflete a melhora da confiança do mercado financeiro", disse ele.
Além disso, a recuperação antecipada na economia da zona do euro "na segunda metade do ano" foi, em grande parte, graças à "orientação da política monetária de acomodação", afirmou.
"Todas as ações que tomamos terminarão encontrando seu caminho na economia, tanto que veremos uma recuperação gradual na segunda metade deste ano", disse Draghi.
Retorno da confiança
O chefe do BCE rejeitou as preocupações levantadas pela França esta semana de que a alta recente do euro a seus níveis mais altos em mais de um ano poderia dificultar a incipiente recuperação.
"A valorização é, em certo sentido, um sinal do retorno da confiança no euro", argumentou Draghi.
"Em geral, as taxas de câmbio tantos reais como nominais estão em suas médias de longo prazo ou próximas delas", disse ele, insistindo que "a taxa de câmbio não é uma meta da política".
Os comentários pareceram ser dirigidos ao presidente francês, François Hollande, que, na terça-feira, pediu à zona do euro para gerir a taxa de câmbio do euro.
Discursando no Parlamento Europeu em Estrasburgo, Hollande disse "uma zona de moeda única deve ter uma política cambial, caso contrário, verá sua taxa de câmbio ser imposta (pelos mercados), o que não está alinhado com sua posição competitiva real".
Draghi respondeu: "eu acho que nós devemos sempre lembrar que o BCE é independente, ouvimos todo mundo falando bem, falando mal sobre a moeda. O julgamento final da eficiência desta estratégia é ver o que mercados vão fazer com essas declarações".
A Alemanha também não vê motivo para alarme no nível atual do euro de cerca de US$1,35, argumentando que de um ponto de vista histórico, o euro não está supervalorizado atualmente e que este aumento recente é uma contra-reação a uma forte desvalorização na esteira da crise da zona do euro.
Analistas disseram que o BCE não seria levado a cortar as taxas ainda mais para conter o impacto negativo da força do euro, pelo menos por enquanto.
"O BCE não pretende intervir neste estágio, nem mesmo verbalmente. O banco esperará para ver algum impacto negativo da valorização do euro sobre o crescimento e a inflação antes de sentir necessidade de agir", disse Marie Diron da Ernst and Young Eurozone Forecast.
"A valorização do euro ocorreu simultaneamente (e reflete parcialmente) com a melhora da confiança no futuro da zona do euro. Isso é positivo e permite que as empresas comecem a investir e contratar novamente, o impacto negativo da taxa de câmbio forte deve ser moderado", disse ela.
O economista da IHS Global Insight, Howard Archer, disse que, enquanto ele sentia que há um caso convincente para o BCE cortar as taxas em mais 0,05%, "duvidamos que o Banco fará isso".
"Ao invés disso, acreditamos que o BCE manterá sua taxa de 0,75% durante 2013 e, muito possivelmente, também em 2014", concluiu o especialista.