Agência France-Presse
postado em 01/03/2013 17:06
Bruxelas - Quase 19 milhões de pessoas estavam desempregadas na zona euro em janeiro, 11,9% da população ativa, em um novo recorde agravado pelos dados da Grécia, Itália e Espanha, que põem em dúvida as políticas de austeridade impulsionadas pela Alemanha para sair da crise."Isso é uma tragédia para a Europa", disse o porta-voz Jonathan Todd e exortou os países europeus a "mobilizar todos os instrumentos" que tenham ao alcance para combater este flagelo, que atinge, sobretudo, os mais jovens.
No conjunto dos 17 países da zona do euro, 11,9% das pessoas estava desempregada no primeiro mês deste ano, em comparação com os 11,8% registrados em dezembro de 2012, informou o escritório de estatísticas europeias Eurostat. Os dados refletem um aumento de 1,1 ponto percentual em relação ao mesmo mês do ano passado (10,8%), acrescentou.
Os números parecem confirmar os sombrios prognósticos deste ano para a zona do euro divulgados na semana passada pela Comissão Europeia (CE), que estimou um desemprego de 12% em 2013. Na Espanha, a quarta economia da união monetária, o desemprego voltou a aumentar a 26,2% em janeiro, quando em dezembro tinha registrado 26,1%. Os dados são catastróficos para os mais jovens: 55,5% dos menores de 25 anos estavam desempregados no país, informou a Eurostat.
Na Grécia, o desemprego foi de 27% (dados de novembro), informou a Eurostat. Os números se mantiveram estáveis na Alemanha e Luxemburgo (5,3%), em relação a dezembro, apesar do desemprego ter aumentado a 4,9% na Áustria em janeiro, enquanto em dezembro havia registrado 4,3%.
As estatísticas foram divulgadas em um momento de críticas cada vez maiores às medidas de austeridade impulsionadas por Bruxelas sob pressão dos países de maior solvência econômica, qualificados com triplo "A", como Alemanha, para sair da crise da dívida.
Os economistas alertam que a estratégia de cortes em tempos de recessão é a menos indicada, já que eventualmente a agrava e citam John Maynard Keynes, que há 75 anos afirmou: "o auge econômico, e não a crise, é o momento adequado para a austeridade".
Um desemprego muito alto também impacta todos os componentes da economia, entre eles o consumo, um dos motores do crescimento, alertaram. "Sobretudo quando o poder de compra está baseado em salários que não registram mais aumentos e por países submetidos a um duro programa de austeridade", considerou Howard Archer, economista de IHS Global Insight.
A austeridade voltou ao centro das atenções esta semana, após as eleições legislativas na Itália, em que o candidato contra a austeridade, o cômico Beppe Grillo, se transformou na terceira força política do país e provavelmente na chave de um futuro governo.
Contudo, a cruzada da Alemanha a favor da austeridade não terá fim no momento devido à proximidade das eleições legislativas no país, em que a chefe do governo atual, Angela Merkel, disputa seu terceiro mandato.
"Infelizmente, não está prevista uma mudança de tendência. Apesar de a zona do euro sair da recessão este ano, o mercado de trabalho deve continuar sendo afetado durante boa parte do ano ou durante todo 2013", estimou Martin van Vliet, economista de ING.
Os ministros europeus de Trabalho adotaram na quinta-feira em Bruxelas uma proposta para fomentar o emprego entre os mais jovens. Nesse contexto, aumentam as críticas contra a lentidão de Bruxelas para estimular políticas que ajudem a criação de emprego (e não a sua destruição). No conjunto da União Europeia (UE), o desemprego também aumentou, atingindo a cifra recorde de 10,8%. "O estado de bem-estar europeu entra em colapso", afirmou o ministro francês Michel Sapin.