Lisboa - Milhares de portugueses saíram às ruas neste sábado em trinta cidades para protestar contra as medidas de austeridade, em manifestações convocadas por um movimento apolítico que em setembro passado conseguiu reunir multidões.
"Fora a troika e o governo", "eleições já", "democracia participativa", eram algumas das frases escritas nos cartazes carregados pelos manifestantes.
Em Lisboa, milhares de manifestantes se reuniram a partir das 16h00 (13h00 no horário de Brasília) entoando a canção "Grândola Vila Morena", com as vozes embargadas pela emoção.
Esta canção se tornou o símbolo da contestação em Portugal após ter sido o hino da Revolução dos Cravos em 1974, que permitiu o retorno à democracia.
Há várias semanas, manifestantes a cantam durante a passagem de membros do governo. Um discurso no Parlamento do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho chegou a ser interrompido pelo canto.
Ela deve ser ouvida simultaneamente em 30 cidades onde o movimento apolítico "Que a troika vá para o inferno", comparável ao movimento dos Indignados na Espanha, convocou os protestos.
Este movimento critica principalmente as medidas de austeridade adotadas pelo governo sob pressão da troika (UE-FMI-BCE), que representa os credores de Portugal, atualmente presente em Lisboa.
Muito ativo nas redes comunitárias, o movimento reuniu em 15 de setembro de 2012 milhares de pessoas em todo o país, uma mobilização excepcional desde a Revolução dos Cravos.
Recusando-se a qualquer prognóstico sobre a extensão que as manifestações podem alcançar neste sábado, um dos líderes do movimento, Nuno Ramos de Almeida, considerou "que pouco importa este tipo de previsão".
"O que importa é que as pessoas querem se opor a esta política", declarou à AFP. "Este governo não pode governar contra o povo e eu acredito que irá cair".
"Uma grande manifestação é um forte sinal de descontentamento, e eu espero que o governo entenda o recado", afirmou Luis Costa, do partido de extrema-esquerda.
O movimento anunciou que outros protestos em apoio à causa vão acontecer em cidades estrangeiras como Londres, Boston, Paris, Madri e Barcelona.
Estas novas manifestações acontecem em um contexto de tensão social, que aumentou ante as medidas de austeridade adotadas pelo governo de centro-direita em troca do plano de resgate de 78 bilhões de euros concedidos em maio de 2011.
"O governo está nos roubando. Eu estou aposentado, mas isso não impede que me tirem muito dinheiro", declarou José Mendes, de 65 anos.
Das manifestações participam o principal sindicato, CGTP, mas também professores, trabalhadores da área da saúde e aposentados.
Até os militares se juntaram à marcha em Lisboa, que terminou na monumental Praça do Comércio.
Após ter procedido no ano passado com a redução dos salários e das aposentadorias, o governo decretou este ano um aumento generalizado dos impostos e prevê cortes adicionais de 4 bilhões de euros por meio de uma "reforma do Estado".
Muito criticada pela oposição, esta reforma deve ser apresentada à troika.
Após uma análise das finanças e desta reforma, seus credores podem concordar com uma nova redução das metas fiscais do governo, cada vez mais difíceis de serem alcançadas, de modo que a economia deve encolher este ano em 2%, duas vezes mais do que o previsto, e o desemprego deve atingir um nível recorde de 16,9%.