São Paulo ; O economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, é pragmático ao analisar a condução da política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff. Para ele, que faz parte de uma corrente mais pessimista do mercado, economista não pode ser chefe de Estado. ;Sempre brinco que esse negócio de colocar economista como presidente é uma coisa terrível. Economista já tem seu pensamento econômico. É cabeça-dura, não vai mudar o que ele aprendeu, o que acha que é correto, da noite para o dia;, diz.
Formado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e com mestrado pela USP e pela Universidade de Wisconsin Madison, nos Estados Unidos, Vale argumenta que o país cresce pouco devido a uma escolha de governo em afrouxar o controle da inflação, que deverá ficar em torno de 6% neste ano e poderá chegar a 6,5% no próximo. O economista defende um pulso mais firme na condução da política monetária, assim como o adotado pelo ortodoxo Paul Volker (ex-presidente do Federal Reserve), para domar os preços. Na avaliação dele, ninguém mais vê que o Banco Central considera a meta de 4,5%, de fato. Ele afirma que a política econômica precisa voltar ao tripé dos princípios macroeconômicos ; metas de inflação, câmbio flutuante e superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) ;, que, durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, domou a hiperinflação e que, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, viabilizou a estabilidade econômica para que as ações sociais fossem feitas. Leia os principais trechos da enrtrevista concedida ao Correio.
Baixo crescimento
O país não está condenado a crescer pouco, mas o governo fez essa escolha. No início da gestão de Lula, até mais ou menos 2005, havia a percepção de continuidade das reformas e do tripé macroeconômico. O cenário internacional foi importante, mas o estímulo do crescimento veio por razões domésticas. O país passou 15 anos fazendo reformas e controlando a inflação. Isso ajudou a colocar a economia num trilho de crescimento equilibrado, razoável e com regras estáveis. A partir de 2006, após o mensalão, e talvez ele tenha uma razão por trás disso, o governo descobriu que tinha de estimular o crescimento também por meio de políticas sociais, e esqueceu as reformas. Aí, veio o Bolsa Família crescendo, os aumentos do salário mínimo e o inchaço do funcionalismo. Aumentou-se a participação do setor público não só na questão dos gastos, mas também na ingerência. A mão do Estado começou a ficar mais pesada.