Economia

Divergências no Chipre sobre plano de resgate da UE adiam ratificação

Com o adiamento, os bancos da ilha poderão permanecer fechados mesmo após a segunda-feira, feriado no Chipre

Agência France-Presse
postado em 17/03/2013 11:57
Nicósia - O governo do Chipre adiou para segunda-feira o debate parlamentar sobre o plano de resgate negociado com a União Europeia (UE), em consequência das dúvidas dos deputados a aprovar um texto que impõe uma inédita taxa sobre os depósitos bancários em troca de um empréstimo de 10 bilhões de euros.

Os credores internacionais pediram ao país a adoção de uma taxa excepcional e inédita de 6,75% a todos os depósitos bancários de menos de 100.000 euros e de 9,9% para as contas acima deste valor.

As taxas, que devem arrecadar 5,8 bilhões de euros, serão aplicadas a todas as pessoas que vivem nesta ilha do Mediterrâneo.

Os ativos bancários do Chipre são oito vezes superiores ao Produto Interno Bruto (PIB). O Chipre, onde muitas empresas offshore têm suas sedes, apresenta os impostos para empresas mais vantajosos da UE.

O presidente Nicos Anastasiades também adiou para segunda-feira o discurso que pretendia fazer no Parlamento e uma mensagem à nação para defender o plano de ajuda, que chamou de "doloroso".

Com o adiamento, os bancos da ilha poderão permanecer fechados mesmo após a segunda-feira, feriado no Chipre.

[SAIBAMAIS]Os parlamentares se reunirão na segunda-feira para debater a ratificação do acordo, depois que foram previamente informados pelo presidente Anastasiades, informou a televisão estatal.

O debate parlamentar foi adiado para que os congressistas tenham todas as informações sobre o plano.

De acordo com o canal privado Sigma TV, Anastasiades tem dificuldades para garantir a maioria simples de apoio ao texto no Parlamento, onde seu partido, Disy (direita), tem apenas 20 das 56 cadeiras.

O partido comunista Akel (19 deputados) rejeitou as contrapartidas exigidas por Bruxelas em troca da ajuda ao Chipre quando estava no poder, até a eleição de Anastasiades em fevereiro. Até os aliados do presidente na atual coalizão de governo manifestam dúvidas a respeito do plano de resgate

O Bank of Cyprus, o principal banco do país, particularmente afetado por sua exposição à crise grega, classificou as decisões anunciadas em Bruxelas de "dolorosas e surpreendentes", ao mesmo tempo que considerou "perfeitamente compreensível que a opinião pública esteja inquieta".

Para Hubert Faustmann, analista político alemão radicado no Chipre, "aqueles que aproveitam a condição de paraíso fiscal da ilha e que podem aproveitar para lavar dinheiro pagarão sua parte, o que deve satisfazer a opinião pública alemã, mas estas medidas também afetam toda a população".

Para o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, "a solução tem que ser socialmente aceitável".

"Deveria ser corrigida, por exemplo, com uma isenção de impostos limitada a 25.000 euros", disse ao jornal alemão Welt am Sonntag;s.

Na noite de sábado, mais de 100 pessoas protestaram diante do palácio presidencial cipriota. Na manhã deste domingo, dezenas de policiais foram enviados para a entrada do Parlamento.



Na Espanha, onde milhares de pessoas protestaram no sábado em Madri e em outras cidades para exigir uma "Europa das pessoas contra a UE dos mercados", convocadas pelo movimento dos indignados, que critica a incapacidade dos dirigentes para sair da crise, também foi ouvido o grito, em referência ao Chipre, de "Não devemos, não pagamos".

O candidato derrotado na eleição presidencial cipriota de fevereiro, George Lillikas, que fez campanha contra o plano de resgate, convocou protestos para terça-feira.

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