postado em 18/03/2013 18:19
Rio de Janeiro ; O efeito da desoneração dos produtos da cesta básica sobre a inflação ainda vai demorar algum tempo para ser sentida pela polulação, a avaliação é do economista Salomão Quadros, superintendente de Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). ;Isso tem um processo. Essas coisas se transmitem por meio de renovação de estoques. Até que você tenha o varejo vendendo produtos que já saíram da indústria desonerados, isso leva um certo tempo;. A desoneração da cesta básica foi anunciada pela presidente Dilma Rousseff no último dia 8.Quadros também declarou que, neste momento, é dificil fazer um prognóstico sobre o comportamento da inflação até o fim do ano. Há, segundo ele, vários fatores impulsionando os preços, ;ao mesmo tempo em que o governo está tentando, por meio de algumas desonerações, evitar a continuidade desse processo. Mas a inflação está, realmente, em aceleração;. Daí, explicou o economista, a dificuldade em fazer um prognóstico mais definido, tanto de aumento como de queda da inflação.
Salomão Quadros participou nesta segunda-feira (18/3) da primeira edição de 2013 do Seminário de Análise Conjuntural do Ibre/FGV, cuja periodicidade é trimestral.
O coordenador de Economia Aplicada do Ibre, Armando Castelar, também participou do evento e disse que a economia brasileira atravessa um momento peculiar, com dois cenários distintos colocados na praça. Um cenário mostra uma recuperação mais forte, entre 3% e 4%, com base na retomada de investimentos na área de caminhões, que está voltando a ter uma posição forte, e também baseado na recuperação agrícola, além do efeito da questão dos estoques, que pesou no ano passado.
[SAIBAMAIS]Castelar, entretanto, faz uma análise mais moderada, embora aponte para um crescimento melhor do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, que o do ano passado. ;Eu acho que a visão da gente ainda é um pouco mais calcada na ideia que o ambiente de negócios prejudicou muito o investimento no ano passado. Muita incerteza macro, muita mudança, bota IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], tira IOF, muita mudança setorial, no setor de energia elétrica, no setor de portos. A gente ainda vê um investimento forte no primeiro trimestre mas, no resto do ano recuperando muito gradualmente;, indicou Castelar. O cenário para o PIB sinaliza para um crescimento próximo de 3%, ;ou um pouquinho menos;, declarou.
Nos dois cenários, a inflação preocupa bastante, avaliou o economista. A previsão média para a inflação se situa próximo de 6%. Ele concorda que é difícil saber quanto a desoneração da cesta vai acabar se refletindo nos preços ao consumidor. Externou preocupação em relação ao impacto que uma recuperação mais forte da indústria possa ter sobre a inflação. ;Eu acho que com um real mais desvalorizado e uma recuperação do nível de atividade, você pode ter uma pressão de inflação forte vinda da indústria;.
Embora considere que o quadro internacional possa influir no desempenho da economia brasileira este ano, Armando Castelar destacou que o cenário ainda é relativamente positivo, ;menos em termos de ritmo de crescimento, que deve repetir 2012, mas eu acho que mais como perspectiva;. Ele não tem dúvida que a situação interna do Brasil é que vai determinar se o PIB vai crescer ;muito ou pouco;.
Para o superintendente-adjunto de Ciclos Econômicos do Ibre, Aloisio Campelo, o cenário para a economia brasileira é de aceleração ao longo do ano. Observou, entretanto, que no início do ano, ;apesar do resultado da indústria, que foi muito bom em janeiro, do lado da confiança empresarial e da confiança do consumidor, nós não estamos vendo uma aceleração tão forte;.
Campelo explicou que, de um lado, a indústria vem melhorando no primeiro trimestre, mas o setor de serviços deve desacelerar, apesar de ter mostrado um comportamento bom no final do ano passado. ;Com isso, o PIB deve ter um desempenho semelhante ou talvez um pouquinho superior ao 0,6% [do último trimestre de 2012], mas não um desempenho exuberante no primeiro trimestre [de 2013];.
O economista analisou que o mercado de trabalho continua bem em setores que empregam mais. Para os próximos meses, porém, disse que é esperada uma desaceleração das contratações. ;Isso deve acabar implicando em uma estabilidade da taxa de desemprego ao longo desse ano;. Ele esclareceu que na composição da massa salarial, a tendência é que a contribuição maior deverá vir mais do aumento dos salários que do total de pessoal ocupado no ano.
Já o pesquisador da área de Economia Aplicada do Ibre, Régis Bonelli, trabalha com a perspectiva de recuperação forte da economia no primeiro trimestre de 2013, devido ao crescimento da indústria que, em janeiro deste ano, atingiu 2,5% em relação ao mês imediatamente anterior. ;Mesmo com a queda esperada para fevereiro, a indústria vai crescer no trimestre;. Também para a agropecuária, a expectativa é expansão acentuada.
A taxa de crescimento estimada pelos economistas do Ibre/FGV alcança 1% para o primeiro trimestre deste ano, disse Bonelli em sua palestra. ;E com essa taxa, o efeito de carregamento para este ano, ou seja, se o PIB parar de crescer depois do primeiro trimestre e continuar caindo até o final do ano, no fim de 2013 ele terá crescido 1,7% sobre o ano anterior;.
Bonelli comentou que o primeiro trimestre do ano vem sendo bom, mas confirmou que ainda há dúvidas sobre a economia no resto do ano. ;As nossas sondagens mostram ainda os empresários e os consumidores muito cautelosos, com exceção da indústria de transformação, que é o setor que está crescendo mais até o momento;.